sábado, 15 de janeiro de 2011

Os Guardiões


Capítulo 1: Mão de Fogo

   A lua cheia nos céus brilha sobre a cidade imponente, uma área de prédios altos e grandes arranha-céus, o coração econômico e pulsante da cidade que se torna pela madrugada um local de extrema maldade e putrefação. Homens em capuzes negros assolam a multidão de cidadões inocentes os obrigando a fugir constantemente, elevados em medo e solidão. A noite é dos bandidos, o dia, dos homens ricos e poderosos da metrópole que desfilam em carros de luxos mostrando seu poder e superioridade. Mas além dos problemas comuns, San Cristo, capital do governo do país concentra o maior número de pessoas muito especiais que acabaram por controlar várias áreas da cidade e em uma dessas áreas, um homem de roupa vermelha perscruta com um olhar frio o movimento da noite:
Cada dia que passa essa cidade fica mais podre. Os homens esqueceram noções simples de honra e humildade e passam a humilhar cada vez mais seus semelhantes. Tanto tempo de luta e nada muda. Tantos heróis e tantas boas pessoas sofrem nesse lugar e... talvez em todo Mundo. A vida parece mais difícil, mas o jeito é continuar lutando”.
Dois homens passam correndo por uma rua estreita. O homem de roupa vermelha observa atentamente. Os homens com faces cobertas por meias semi-transparentes deixam seu sorriso a mostra, com lábios cheios de maldade procurando uma vítima para fazer sofrer. O homem de roupa vermelha desce alguns degraus no prédio onde está instalado. Os homens ganham o dia ao encontrar uma bela jovem caminhando com receio em cada passo. A mulher treme ao ver os lábios sorridentes dos homens. Os dois erguem suas mãos como se fossem afanar todo o corpo da vítima. O homem de roupa vermelha move seus lábios também, mas nestes não há o resquício da maldade e sim a boaventura do que considera como justiça. Um dos homens chama a jovem com um movimento do dedo. A jovem balança a cabeça com um “não” reprimido. Os homens se olham rapidamente, o sorriso de crueldade aumenta e calmamente voltam sua visão para mulher à frente. O homem de roupa vermelha desceu mais alguns degraus no prédio e já possuía visão privilegiada da cena abaixo. Um dos homens diz:
-Ah docinho! Não vejo a hora de ter!
-E ainda vamos rouba-la! Vamos sim! -disse o outro com a voz uma estranha. O homem de roupa vermelha apenas sussurou para a noite: -Retartado! O primeiro homem continuou a provocar a jovem:
-Ah neném! A festa hoje vai ser boa!
-É muito boa! Muito boa!
-Não! Por favor! Não façam! Eu dou tudo que tenho, as joías, o dinheiro, só me deixem ir! -Claro que não docinho! Vamos fazer tudo que quisermos e você vai ficar caladinha! -disse o primeiro homem dando uma gargalhada.
-Não...
-Sim sim! -disse o retartado.
O homem de roupa vermelha analisou os dois homens; o primeiro é corpulento, mas não parece ter grande força física, apesar da gordura, o rosto estava irreconhecível por causa da meia; o segundo é tão franzino que para sobreviver nas ruas era provável que tinha alguma habilidade especial ou estava sendo protegido por alguém mais forte. O homem de roupa vermelha percebeu que o segundo tinha uma faca a tiracolo de uma lâmina extremamente afiada e deveria ser ágil com ela, pois foi o primeiro a partir pra cima da jovem e a segurou pelos braços. O homem corpulento com as mãos sôfregas de vontade arrancou parte do colete da jovem expondo seu sutiã. O franzino ficou tão contente que afrouxou um pouco a força nos braços e a mulher conseguiu reunir energia para dar um chute na perna do corpulento.
-Sua maldita! Vai me pagar por isso! -disse o corpulento dando duas tapas no rosto da mulher. Ela começou a chorar e sentiu vontade de urinar com o medo que subia em seu corpo.
-Ah docinho! Chora que eu gosto tá! -disse o corpulento começando a abrir sua calça. O franzino soltou uma gargalhada fina e balançou seus cabelos de caracol ao vento. A mulher deu outro chute na perna do corpulento que imediatamente ergueu seu braço para açoita-la. O homem de roupa vermelha pegou o braço do homem e disse:
-Não sabe que não se bate numa mulher nem com uma rosa!
-Caia fora idiota e larga meu braço! -gritou o corpulento tentando se livrar, mas a mão do inimigo era forte para faze-lo começar a ficar com medo, mas fez de tudo para não demonstrar.
-Eu terei que punir vocês dois! -disse o homem de roupa vermelha.
-E quem diabos é você?! -disse o franzino.
-Não estão me reconhecendo mesmo? -disse o homem de roupa vermelha se deixando pela primeira vez se iluminar completamente na Lua cheia. Os homens tremeram de medo. O franzino largou a mulher rapidamente e o corpulento caiu para trás começando a fechar o zíper da calça. O homem de roupa vermelha sorriu e disse:
-Agora eu acho que entenderam o que vai acontecer.
-Não! Por favor não! Não faça isso, Mão de Fogo!
-Falaram meu nome! Finalmente! Pois é, eu sou o Mão de Fogo! -disse o homem de roupa vermelha erguendo sua mão direita aos céus como se fosse roubar energia da própria luz da lua, sua mão começou a brilhar e faíscas de chamas fugiam fatalmente pelo vento. Os homens arregalaram os olhos com o show pirotécnico. Mão de Fogo virou seus olhos negros cobertos parcialmente por sua máscara para a jovem:
-Eu acho que a dama não vai querer ver esse espetáculo.
-Muito obrigado! Muito mesmo! -disse a mulher correndo para saída da estreita travessa.
-Onde estávamos?! -disse Mão de Fogo esquentando seu olhar sob os homens aterrorizados até a alma, pois fundo imaginavam o pior.
Os dois homens correram por suas vidas e Mão de Fogo apenas pensou: “Atacar pelas costas não tem graça e não é digno de nenhum herói”. Os homens continuaram sua corrida, mas para surpresa deles o jovem combatente da justiça apareceu à frente com um falso sorriso nos lábios. Mão de Fogo ergueu suas mãos aos céus novamente e lançou um poderoso lança-chamas sobre o toráx do corpulento o erguendo do chão e o levando até uma parede a longa distância. O impacto fez a parede ruir e rachar ao longe. O corpulento desmaiou jogando sua língua para fora e caiu como se seu corpo tivesse todos os ossos quebrados. O franzino retirou sua faca e mostrou para o herói. Mão de Fogo nem hesitou em dar um chute com sua perna esquerda e mandar a faca pelos ares. O franzino ficou tão assustado que nem conseguiu reagir e ao ver sua faca tilintar no asfalto voltou a desvairada corrida. Mão de Fogo ergueu sua mão direita aos céus pedindo a benção da Lua cheia e acertou um forte lança-chamas nas costas do franzino. O magro corpo saltou pelos ares e foi visto por uma espectadora e sua família numa janela. A família tinha medo do Mão de Fogo, mas ficaram felizes ao verem o homem mau cair de cara no asfalto. O franzino com as costas chamuscadas chorou e sentiu que várias partes do seu corpo estavam com ferimentos sérios. A queimadura nas costas certamente era de terceiro grau e o Mão de Fogo se assegurou de aquecer o suficiente para isso. Uma sirene soou ao longe e Mão de Fogo subiu pelo prédio onde descera passando rente as cabeças da família que assistia a batalha da vida.
Policiais apareceram na rua estreita e encontraram os dois bandidos que eram procurados por dezenas de estupros seguido de morte, mas os dois homens rezavam para ir para cadeia e não encontrar de novo aquela mão cheia de chamas. Um dos policiais gritou:
-Essa área aqui não é controlada por aquele bandidão do Rosas?
-E cara! Nem chama que ele pode acabar aparecendo. -disse um jovial policial.
-Acho que não Dresden, pois esse cara é metido em vários negócios escusos e importantes que não vão fazer ele aparecer na rua para cuidar de bandidos enlouquecidos. -disse outro policial com uns quilos a mais.
-O Rosas é ardiloso além de ser um dos caras mais duvidosos com poderes nessa cidade. -disse o primeiro policial que possui um bigode raso.
-Sei não Florença! O Rosas é estranho e chegado a comunidade gay, mas não deixa de ser perigoso. -disse Dresden.
-E eu disse o contrário?! -disse Florença.
-Você não ficando sozinho com ele para ver o que acontece é que não pode acontecer. -disse o primeiro policial. Os policiais soltaram uma gargalhada.
-Muito engraçado Nápole! Deveria ser comediante! -reclamou Dresden.
-Você sabe bem que o Rosas é chegado a um menino forte assim como você... -disse Florença.
-Já chega dessa história! Eu que não quero chegar perto desse meliante. -disse Dresden.
-E se precisar? As vezes o dever nos chama! -disse Nápole.
-Não vou precisar, pois esse cara nunca vai ser pego. O Rosas como você disse é ardiloso e dificilmente o pegam fazendo coisas erradas. Só enfrentamos seus capangas. -comentou Dresden.
-Nisso você tem razão. Dizem por aí que ele pretende expandir sua área de atuação. Acho que planeja controlar todo o segundo distrito. -disse Nápole.
-Impossível! -exclamou Florença.
-Foi o que me disseram. -comentou Nápole.
-A fonte é confiável? -perguntou Dresden.
-Todas as minhas fontes são confiavéis, eu não comecei agora garoto, estou nessa a quase vinte anos. -disse Nápole.
-Ta certo vovô! -disse Dresden rindo. Florença acompanhou a gargalhada.
-É melhor ser vovô do que namorada de gay! -respondeu Nápole. Florença novamente riu, mas Dresden e Nápole se encararam seriamente. Como Florença ainda morria de rir começou a chamar atenção de outros policiais de menor escalão para conversa. Nápole e Dresden disseram ao mesmo tempo:
-Cala essa boca Florença!
Florença amuou envergonhado. Dresden percebeu que o fotógrafo da policia técnica já tinha retirado todas as fotos necessárias e estava partindo. Nápole foi verificar os danos estruturais aos prédios. Florença chamou alguns colegas e começou a contar sua versão do ocorrido. Mão de Fogo que observava de camarote a ação dos policiais escondido atrás de uma estátua no topo de um dos prédios achou a história bem diferente do que acontecera. Porém, achou algumas informações valiosas de um odiado inimigo. Rosas estava querendo expandir seus domínios novamente e lembrou-se que da outra vez isso custou várias vidas. Os três policiais voltaram a se juntar:
-Contei para o pessoal o que achei que aconteceu aqui. -disse Florença.
-Tenho medo de suas suposições Florença. -comentou Nápole.
-Histórias nada confiavéis! Nem olhe com essa cara que não queremos ouvir! -disse Dresden.
-E também quero falar sobre outra coisa importante. -disse Nápole.
-O que é? -inquiriu Dresden.
-Acho que estamos sendo observados. -comentou Nápole.
-Pelo Mão de Fogo? -disse Florença.
-Não só por ele. Sinto que tem mais alguém na parada. -disse Nápole.
-Não existe uma ordem de prisão para o Mão de Fogo? -perguntou Dresden.
-Existe! Mas que idiota ia querer enfrentar o cara. Dos heróis malucos que apareceram nessa cidade, ele é um dos piores. -disse Florença.
-Quase sempre mata os bandidos que encontra ou caça. Por isso há várias ordens de prisão contra ele. -disse Nápole.
-O aparecimento dele se deu por volta de dois anos atrás e começou como a maioria. Combatendo pequenas gangues de ruas que procuravam manter seu domínio nas noites frias de San Cristo. -disse Florença.
-É claro que não demorou a evoluir e pegar bandidos grandes como políticos e magnatas. Alguns traficantes estão na sua lista de derrotados também. -disse Nápole.
-É, mas ele se deu mal quando enfrentou aquele maluco do Zeus. Perdeu a luta em praça pública e desapareceu por semanas. Várias áreas que eram limpas de crimes por sua presença voltaram a ficar infestadas. -disse Dresden sorrindo.
-Esses heróis são malucos, mas acabam protegendo a cidade mais do que imaginamos. -disse Nápole rascunhando os céus e aproveitando para observar os tetos dos prédios na tentativa infrutífera de localizar o herói.
Mão de Fogo ao ouvir o nome Zeus estremeceu. Olhou ao redor com um olhar vazio e perdido num mar de lembranças que remontavam a uma montanha de dor e raiva. Seu coração acelerou com os pensamentos que sobrevieram a mente. Sua vontade começou a beirar o limite e por isso soltou um forte soco na parede ao lado. Mão de Fogo sentiu vontade de chorar e ao mesmo tempo queria esmagar a estátua a seu lado apenas para aliviar o peso que seu coração teimava sentir, e sabia que de tudo que sentia, a raiz se encontrava na culpa e no fato de ter falhado. Mão de Fogo se preparou para acertar outro soco na rocha, mas seu golpe foi bloqueado por uma mão espalmada. O herói de roupa vermelha olhou atenciosamente para frente e viu um amigo.
-Não devia se punir tanto meu amigo.
-Não estava lá para saber do meu sofrimento! -disse Mão de Fogo.
-Somos heróis, mas você sabe bem que não somos onipotentes ou invencíveis. Somos homens que tentam lutar por um futuro melhor. -disse o amigo.
-Bom, Raio, não sou como você e isso é um fato. Mas compartilho algumas de suas idéias. O que nos aproxima como heróis é verdade, no entanto, as nossas ações geralmente poderiam nos colocar como inimigos. -disse Mão de Fogo.
-Espero que isso não aconteça brother! -disse Raio.
-Nem eu. Mas os tempos ficam cada vez mais dificéis. Sinto que perco o controle a cada dia. Sinto mais vontade de punir os bandidos os mandando para o Inferno do que os deixando vivos. -disse Mão de Fogo.
-E sua consciência depois pesa com a morte desses infelizes. Indo por esse caminho apenas quem se perde é você. -comentou Raio.
-Mas ele não tem volta amigo. Depois que você mata uma vez, a segunda sempre é mais fácil. E aí começa o ciclo de mortes que nos leva a um tenebroso fim. -disse Mão de Fogo recostando na parede.
-Sei que ainda sofre com aquela derrota...
-Eu acho que não quero falar disso...
-Bom brother! Temos de falar disso e o motivo é mais simples do que imagina.
-Como assim?!
-Ele voltou.
-O Zeus voltou? Pensei que ele tinha perdido a memória...
-Mas voltou amigo. E agora vai querer continuar seu sagrado trabalho de matar todas as pessoas honestas da cidade. -disse Raio demonstrando preocupação na face coberta por uma máscara de cor amarela e azul.
-Meu Deus! Espero que não aconteça outra chacina! Só de me lembrar já me sinto enjoado. -comentou Mão de Fogo.
-Foi pura crueldade o que ele fez. Sei disso. E por isso vim falar com você para nós impedirmos outro massacre. -comentou Raio.
-Só que também tem o Rosas. -disse Mão de Fogo.
-É mesmo! Você falou bem, estamos em seu território. O que tem ele?
-Parece que vai expandir seus dominios e começar outra guerra.
-Assim nunca teremos paz! -reclamou Raio.
-Estou me prejudicando no trabalho também com essas andanças noturnas. Está ficando insuportável ser uma pessoa normal pela manhã e um herói pela noite.
-Está dormindo pouco? -perguntou Raio.
-Muito pouco. Quase nada.
-E agora temos duas guerras prestes a começar. E nem sabemos como anda o resto dessa grande cidade. -disse Raio.
-Isso que dá entregar poderes as pessoas. Qualquer tipo, não importa se é de um acidente como o nosso ou se é espontâneo, e nem mesmo o poder das pessoas comuns, todos tem em comum o fato de corromperem a alma das pessoas.
-E para lutar por um Mundo melhor, ou pelo menos, por uma cidade melhor que nos juramos um dia sermos... Os Guardiões da Liberdade.
-Já faz tempo que não nos reunimos não é? -disse Mão de Fogo.
-É. Os Guardiões começam a ser esquecidos e somos vistos cada vez mais individualmente. Isso só aconteceu, pois os vilões se fragmentaram demais e nós também. -disse Raio.
-É incrivel como a cidade dos cinco distritos ficou ainda mais dividida e mais perigosa. -disse Mão de Fogo se levantando.
-Por isso que temos de continuar. Nós fazemos uma diferença. Eu sei disso. Aqueles policiais sabem disso. Os bandidos que você quase incinerou também. Mas será que você sabe?
Os dois vigilantes ficaram observando o trabalho dos policiais enquanto a madrugada adentrava a escuridão.

FIM



2 comentários:

  1. pronto parceiro! Capítulo 1 lido! curti a história!!!

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  2. Tava em deficit ... Episodio um lido .. Faltou o To Be COntinued ali no final! Flou! Nao esqueça d visitar meu blog ...

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