domingo, 27 de fevereiro de 2011

Capítulo 6: A Beleza e a Foice




Capitulo 6: A Beleza e a Foice

Na noite recheada de estrelas da cidade de San Cristo, dois heróis se encontram sobre um pequeno parque no Terceiro Distrito. Os dois olhos se analisam fixamente apesar de cobertos por máscaras que escondem não só a visão, mas também o que está por trás de seus pensamentos. O Jurado com seu poderoso martelo da justiça que cria campos de força para protegê-lo dos perigos e assim caçar aqueles que difamam a justiça e se salvam nos tribunais a custa dos inocentes. A Bruxa com sua face coberta completamente por uma máscara rubra deixando a mostra somente seus cabelos quase azuis misturados a cor lilás e possuindo um ataque mortal em segredo. Os dois se analisam enquanto a Bruxa se prepara para contar uma história, sua história, seu passado, suas amargas lembranças que a tornaram a protetora do bairro das mulheres em San Cristo. O Jurado impaciente com o silêncio e lembrando de seu real objetivo ali, que é caçar o mercenário conhecido como Ceifador movimenta sua mão livre no sentido de chamar atenção da guerreira. A Bruxa balança seus cabelos ao sabor do vento que passa e o Jurado fica um pouco corado pensando “Minha nossa! Como ela pode ser uma Bruxa, se me parece tão linda! Ainda mais assim, coberta pelo luar.
-[ Muito bem, Jurado, a minha história começa com uma garotinha que era bem vigiada pelos pais, muito católicos, fervorosos, que não a deixavam livre nem por um segundo. Ela cresce indo para Igrejas e vendo a beleza das palavras de Deus e admirando os anjos, porque em si possui o drama da feiúra. Uma feiúra marcada por cabelos negros que parecem azuis e um rosto coberto por minúsculos sinais. Os pais da garota sempre a chamavam de feia, em momentos de irritação passava a ser simplesmente “cria do demônio”, tudo isso por causa da feiúra.
A garotinha cresceu com esse estigma e pensou que na escola receberia um pouco do calor que chamam de amizade. Porém, ao chegar na escola em seu primeiro dia de aula foi martirizada por seus colegas e deixada de lado ganhando apelidos como “estranha” ou “infame”. Não demorou para garotinha entrar em desespero, mas não o desespero a quem estamos acostumados, um desespero ligado a sua alma que vinha sendo constantemente torturada pela solidão e pela feiúra. Logo mais, a menina cresce e encontra seu primeiro amor, mas ele a renega por sua terrível feiúra, procurando outra muito mais atraente, deixando a menina que já era sofrida mais dilacerada internamente.
Os anos passam e a menina vira uma mulher, marcada por usar roupas diferentes, sempre muito coloridas e desajeitadas, mas nunca teve uma amiga para lhe ajudar escolher roupas e sua mãe, uma mulher fervorosa, odiava a moda. A mulher ficou conhecida como bruxa por seus colegas no ensino superior e todos praticamente a renegavam ou odiavam. Muitos nem sequer a olhavam com medo de pegar sua feiúra. Só que todos esqueciam que ali residia uma pessoa que tinha muito medo da sua solidão. Logo mais, a garota encontra um jovem que se aproxima, tão belo, gentil e popular que nenhuma mulher poderia resistir ao seu encanto, mas ela descobre depois de amargo tempo que ele só queria usa-la como ferramenta de aposta, a qual ganhou ao fazer a menina dar seu primeiro beijo. Só que a mulher de tão apaixonada implorou para que não a abandonasse, que não queria mais ficar sozinha num mundo tão cruel, que ele a fazia sentir algo diferente e aquele beijo mostrava isso. Ela perguntou se ele não podia sentir aquilo, mas seus olhos frios e sua boca responderam calmamente: “Como eu poderia sentir algo por uma coisa tão feia, inútil e ignorante quanto você”. A mulher entrou em desespero com essas palavras, dessa vez o desespero de querer rasgar suas vestes e correr como louca, o que fez em parte, correndo desaforada pelas ruas da cidade e para melhorar a melancolia do momento foi em um triste dia de chuva.
A mulher depois de chorar até secar suas lágrimas tentou ver o amanhecer de um novo dia indo normalmente para suas aulas, mas sempre que era vista, em vez de ser ignorada como antes, recebia os gracejos ousados e maldosos dos homens e a raiva e o rancor das mulheres. Algumas pessoas que antes nem olhavam passaram a ver e falar, mas não como a mulher e a menina esperavam, e sim da forma como mais temiam. Aonde entra o respeito por outra pessoa que tanto se fala na Bíblia? Será que os seres humanos são todos assim? Eram perguntas que a mulher queria as respostas, mas ninguém se importava em responde-las. Com o tempo a mulher descobriu que o mundo dos livros e das experiências era onde se sentia útil e um pouco melhor. Caiu nesse mundo com paixão, até ser interrompida repentinamente pela cruel morte de seu pai em um tiroteio. Era só mais um inocente que caia morto nas ruas de San Cristo.
No enterro do seu pai, poucas pessoas se faziam presentes e nenhuma delas lhe deu algum conforto, pois temiam pegar suas espinhas e se manchar com a estranha de seus cabelos. A mãe que antes já lhe falava coisas ruins, abandonou a igreja e passou a viver sua rotina em silêncio, sendo que sempre ao se dirigir a filha era com veneno em sua voz. A mulher finalmente saiu de casa deixando a mãe e tentando aliviar sua dor se aprofundou ainda mais em seu laboratório, onde fez uma poção que procurava deixa-la mais bela e atraente para as pessoas, pois assim nunca mais ficaria sozinha. Só que a poção falhou nesse ponto, mas há males que vem para bem, como dizem, pois a poção deixou-a mais forte fisicamente, mais ágil, sentia-se pela primeira vez invencível e assim decidiu combater o mal que assola San Cristo tornando-se uma heroína.
Como uma heroína caminhando como uma vigilante pelas noites percebeu o quanto o Mundo valoriza a beleza e o poder, estes andam de mãos dadas em sua construção. E finalmente as palavras sagradas lhe fizeram sentido, pois era na beleza dos homens dadas por Deus que estava a verdadeira força transformadora e muitas vezes opressora. Essa idéia ganhou certeza ao descobrir como as mulheres eram utilizadas por sua beleza para serem escravas no mercado paralelo, um mercado internacional do crime que usa até meninas para satisfazer velhos moribundos e cheios de dinheiro. Essa situação, fez esta mulher e heroína que você vê se tornar a real protetora deste bairro, que possui esse nome inteiramente por minha causa. E assim protejo este local sem ajuda de nenhum homem de todo o tipo de mal]. Por isso não é bem-vindo aqui!

Um silêncio mortal se intercala entre o término da história da Bruxa até a reação do Jurado que baixou a cabeça em resignação. A Bruxa viu que ele abaixou o martelo da justiça ficando levemente vulnerável. O Jurado ergueu sua cabeça lentamente e encarou a máscara rubra da Bruxa. Ela deu um passo pequeno e angustiado para trás temendo um combate, pois sabia que não seria nada fácil combater alguém como o Jurado. Porém, o homem resolveu que não queria uma briga e sim uma conversa, que começou com uma simples exclamação:
-Beleza não é tudo!
A Bruxa recebeu o impacto da frase não por ela em si e sim pela certeza que o tom de voz que seu locutor a imprimia. O Jurado continuou:
-Você acredita que a beleza e o poder estão no controle desse mundo, mas será que entendeu o que é a verdadeira beleza e o verdadeiro poder? Eu ouvi bem a história e fico triste de saber que não teve amigos em sua jornada, é muito triste uma vida assim, sempre é. Mas se quiser e se estiver disposta a abrir um pouco do seu coração, saiba que pode encontrar um amigo em mim.
-Mas que droga é essa que está dizendo?! Mal nos conhecemos e você já vem com esse papo de amizade!
-Te conheço o bastante, pois você acabou de me contar sua história. E ao contrário de muita gente eu observei a dor e a solidão dela. Você usa sua máscara para esconder a feiúra que carrega, mas não sei como uma mulher de cabelos tão incomuns e com tanto mistério em seu movimentar possa ser realmente feia. -disse o Jurado voltando a ficar corado. A Bruxa dessa vez notou e por um momento se sentiu em paz.
-Sei que atravessou momentos difíceis, mas se quiser não precisar mais ficar sozinha. -disse o Jurado estendendo sua mão e caminhando para heroína. A Bruxa ficou paralisada diante da paz que o homem carregava em si e tentou mensurar a imagem de guerreiro agressivo que mata por justiça com um homem que tenta salvar uma alma perdida não conseguindo realmente compreendê-lo. O Jurado ficou de frente para Bruxa que deixou cair lágrimas de sua máscara, então o herói apanhou algumas com sua mão livre e ia tocar o rosto da mulher. A Bruxa percebeu o movimento e deu um passo pra trás passando a mão no rosto para retirar as lágrimas.
-Não precisa mais chorar em segredo. E nem guardar suas lágrimas amargas. Tente dar a si mesma um pouco de paz e felicidade.
-Como você... -a Bruxa ia dizendo, mas foi interrompida por um rápido movimento do Jurado que a abraçou. Os dois voaram em pleno ar enquanto rajadas de balas surgiam por todos os lados. A Bruxa se sentiu pela primeira vez protegida e nunca pensou que isso poderia ser tão bom, ser protegida em vez de proteger, ter alguém para chamar de herói e mesmo nesses segundos no ar conseguiu agradecer ao Jurado por suas palavras de esperança. O Jurado recebeu três tiros em seu corpo de forma a evitar que atingissem a Bruxa, seu martelo poderia protegê-lo se estivesse erguido, mas se fizesse isso a jovem ao seu lado morreria. Os dois caíram sobre a areia do parque aparentemente desmaiados pelo choque e os bandidos resolveram sair de sua escuridão. Dentre eles um com um grande foice disse:
-Desculpe atrapalhar o momento romântico dos heroizinhos! Mas está na hora de serem fatiados por minha foice! Estava me procurando Jurado? Estou a um passo de você sempre seu idiota!
-Calma Ceifador! Eu acho que eles dariam um bom dinheiro num leilão com mafiosos. Muitos iriam querer a cabeça do Jurado! Mas a Bruxa tenho negócios pessoais com ela. Ela vai me pagar pelo que me fez! -disse um homem de terno cinza com várias cicatrizes no rosto.
-Robert Robespierre... -sussurrou a Bruxa.
-Ela está viva ainda! Que maravilha hein Robert? Ter sua vingança! -disse o Ceifador.
-Isso mesmo! Vai pagar pelo que fez ao meu rosto vadia! -disse Robert caminhando sozinho para o corpo destroçado da Bruxa. O Ceifador ansioso por ver uma morte baixou sua foice e colocou o queixo sobre ele de forma a assistir de uma forma melhor. Os bandidos com suas pistolas também sorriam mostrando seus dentes amarelados e felizes por acabarem com dois heróis de uma vez. Robert retirou uma faca da cintura e avidamente caminhou para guerreira, mas não viu que o Jurado ergueu-se rapidamente e o socou três vezes no rosto, cinco vezes no tórax e oito vezes no abdômen. Os movimentos foram extremamente rápidos para um homem comum tanto que os bandidos demoraram de preparar suas armas, apenas o Ceifador conseguiu vê-los com precisão, mas a distância o impedia de fazer qualquer coisa. A Bruxa percebeu que o sangue do Jurado manchava a areia e este caiu para frente enquanto Robert Robespierre caiu para trás.
-Robert você é um tolo! Não devia ter se aproximado tanto! -disse o Ceifador.
-Agora é minha vez de lutar Ceifador! Vou fazer você desaparecer deste bairro! Esse lugar não é para um imundo como você! -disse a Bruxa apontando suas ameaçadoras unhas para o inimigo. Os bandidos apontaram suas pistolas, mas o Ceifador ergueu o braço:
-Deixem ela comigo. Quero ver se ela me diverte um pouco.
A Bruxa fechou seus punhos e olhou de soslaio para o herói derrubado, onde sua mente quase gritava um tímido, mas importante “obrigado”.

FIM

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Capitulo 5: A Bruxa




Capitulo 5: A Bruxa

O Jurado voa sobre os telhados do Terceiro Distrito focado num objetivo único, encontrar um antigo herói dono de um famoso bar. Seus sentidos caminham em cada salto desferido sob a côrte do luar, onde cada movimento preciso era feito com a maestria de um acrobata de circo. Seu corpo encontravam facilidade ao pisar sobre as estruturas de concreto que davam suporte aos prédios, assim como as estátuas de animais estranhos adorados por seus moradores ou pelos construtores dos prédios. O jovem herói lembrou do que queria com o homem das armas e expressou em um rápido pensamento enquanto sobrevoava um grande espaço entre dois prédios, “Preciso encontrar o maldito Ceifador!”. O Pistoleiro tinha as informações que necessitava, era um homem que sabia das coisas e fazia por merecer seu título de herói. Mesmo que não possuísse grandes habilidades especiais como outros heróis, tinha a astúcia necessária para uma pessoa sobreviver numa cidade tão injusta. O Jurado pulou sobre o parapeito de uma janela encontrando uma mulher de toalha se exibindo para o marido, esta tomou um susto com a rápida aparição e ficou mais atordoada ao vê-lo passar por cima do prédio vizinho. Um garoto numa esquina observava as estrelas que saltavam com sua pureza maravilhosa no alto do céu fazendo resplandecer os olhos do jovem, que ficaram alarmados ao ver um homem mascarado saltar de uma altura de aproximadamente oito metros e ficar em pé. O Jurado olhou por cima do ombro com um sorriso sarcástico e o garoto passou de alarmado para agitado e gritou para mãe que trabalhava na cozinha:
-Mãe é ele! É ele!
-Quem é ele menino?
-O Jurado mãe! É o Jurado...
-Menino! Pare de gritar esse nome! Os heróis aqui são para serem vistos e não falados! Nunca se sabe os olhos grandes que tem por aí.
-O que é olho grande mãe?! -disse o menino com olhos ainda brilhantes.
-Ahn! Deixa eu ver como vou explicar...
O Jurado não quis ouvir o resto da comédia familiar e adentrou uma viela onde encontrou a pessoa que procura fumando um cigarro sentado num barril. O Pistoleiro olhava a decoração da parede de um prédio pichada com inscrições incompreensivéis, mas marcadas pelo ódio e pela violência. O Jurado aproximou-se cautelosamente, tocou o cabo do martelo que sempre carrega consigo, mas o Pistoleiro sem vê-lo presumiu seus pensamentos:
-Pode se desarmar Jurado! Não vou matar você. Se quisesse você morto, já estaria assim.
-É por isso que eu gosto de você Pistoleiro! É um autêntico herói, sempre ousado e pronto pra matar quando é preciso.
-Sua definição de herói não é bem a minha, mais deixemos essas coisas para lá e vamos direto ao assunto que não quero ficar muito tempo longe do meu bar. -comentou Pistoleiro.
-Certamente. Vim saber se tem algo para me dizer sobre o Ceifador? Aquele assassino miserável está em minha lista de prioridades faz algum tempo. Só que é um inimigo muito escorregadio.
-Sei como é esses tipos! Nunca conseguimos derrota-los completamente. Fogem da prisão, matam de novo, nunca pensam em se redimir e trabalhar honestamente.
-Para mim são a essência do mal que deve ser expurgado! -disse o Jurado em um tom de voz extremamente frio.
-Uau! Falando assim é capaz de até me deixar com medo! -disse o Pistoleiro rindo e dando mais uma baforada com seu cigarro. O Jurado apenas olhou para as pichações com ar irritado e voltou sua atenção para o Pistoleiro, cruzando seus braços:
-O Ceifador tem aparecido em seu Bar da Princesa ultimamente?
-Não. Ele anda sumido, pensei até que poderia estar morto, mas...
-Mas o quê?
-Descobri que ele está trabalhando para um figurão...
-Por que o estava investigando? Ele lhe fez algo? -perguntou o Jurado.
-Não me fez nada, mas um antigo colega me pediu informações sobre ele, então você deu sorte Jurado. O figurão que ele trabalha tem sua base aqui mesmo no Terceiro Distrito em uma área não longe desta, só que te aconselho a não ir para lá.
-E porquê?
-Há um guardião lá que você talvez não queira enfrentar. -disse o Pistoleiro pela primeira vez realmente encarando o outro herói.
-Hum! Então estou vendo que a coisa vai ferver, pois a minha meta é aniquilar o Ceifador e vou aonde for preciso para essa justiça ser feita. -comentou o Jurado.
-Bom! O figurão ao qual estou me referindo é o Robert Robespierre, uma mistura de traficante de heroína ligado a prostituição infantil internacional. É um homem infame de todo modo! -disse o Pistoleiro cuspindo em seguida.
-A justiça que faço é aquela que passa pelos tribunais e não é resolvida. Então esse traficante não me interessa tanto e sim o seu lacaio. Qual o bairro Pistoleiro? -disse o Jurado empunhando o martelo da justiça que pode criar um campo de força para protegê-los de projetéis, principalmente, de balas.
-O Bairro das Mulheres... -disse o Pistoleiro que nem teve tempo de continuar, pois o Jurado saltou sobre o prédio ao seu lado e foi pisando de parapeito em parapeito até chegar no alto do prédio e correr pelos telhados. O Pistoleiro voltou a soltar uma baforada de seu cigarro e pensou “O Jurado não imagina a encrenca a qual vai se meter!”.

O Jurado com fé em resolver finalmente sua pendência com o Ceifador correu pelos prédios com uma velocidade maior do que a iniciara a caçada, sentia seu sangue ferver, suas pernas se moviam por si mesmas de tanta vontade, seus olhos focavam o horizonte e ignoravam a beleza das estrelas e do luar, seus sentidos mais aguçados estavam ligados na única coisa que lhe fazia sentido, ou seja, fazer justiça. O Jurado chegou ao bairro das mulheres no Terceiro Distrito, diminuiu a velocidade de seus movimentos sobre os prédios e foi para uma área em que se encontra apenas residências. Observando cada esquina esperava que os bandidos aparecessem para lhe dar alguma informação. Não queria incomodar a paz dos moradores, pois essa tática normalmente trazia mais maléficios do que benefícios e os jornais teriam a manchete que adoram, JURADO MATA MORADORES POR SEDE DE JUSTIÇA.
O Jurado entrou numa área com uma pequena praça para crianças brincarem, onde se encontram diversos brinquedos como um escorrega e uma gangorra. Lembrou dos tempos de criança onde não havia tantas preocupações e começou a invejar a juventude que não tinham esses problemas, mas a mente humana, curiosa e perniciosa como é, o levou para um caso onde uma menina foi estuprada e morta por dezenas de homens e nem um deles foi considerado culpado no tribunal. Isso acendeu seu ódio sobre eles tendo a oportunidade de caçar um por um, mesmo sendo homens de posses, mas não exatamente ricos, apenas vassalos de homens mais capazes. O Jurado ficou tão distante com essas lembranças que baixou sua guarda sendo atacado pelo que conseguiu ver de relance, uma unha postiça. O Jurado foi para cima do escorrega para fugir e várias unhas postiças o atacaram, mas ergueu seu martelo os repelindo.
-Ora se não é o demônio chamado Jurado! -disse uma mulher encoberta pelas sombras da noite.
-Quem é que invoca meu nome? Apareça!
-Uma pessoa que talvez não goste de conhecer a não ser que queira morrer! -disse a mulher saindo das sombras e revelando a face coberta por cabelos numa cor azul misturada com lilás, usando uma armadura que possui uma imensa ave na cor lilás de olhos negros em alto relevo na frente e nas costas, sendo sua intenção simular um corvo, mas com um tamanho descomunal.
-Acho que acabei de te reconhecer. É a heroína que chamam de Bruxa!
-Hum! Estou vendo que me conhece, mas quero saber o que veio fazer no bairro das mulheres? Não sabe que eu protejo esta área?
-No momento de caçar acabei me esquecendo desse detalhe.
-Então admite que está invadindo! Devo te fazer sair à força? -disse a mulher.
-Nossa! Quanto ódio em tuas palavras. Sinto um rancor estranho em você.
-Não importa o que eu sinto!
-Então porque você luta?! -disse Jurado fazendo Bruxa olha-lo atentamente empunhando um martelo e trazendo inquietantes lembranças.
-Acho que não fará nenhum mal que conheça a minha história. Talvez assim compreenda porque deve sair deste bairro e porque todos tem o prazer ou a dor de me chamar de BRUXA!


FIM

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Capitulo 4: A Prostituta



Capitulo 4: A Prostituta

Gregory Peck dirige em alta velocidade em direção ao perigoso Quarto Distrito, sob a noite sem nuvens da cidade de San Cristo. Ao adentrar percebe a imundice humana representada na figura dos inescrupulosos bandidos, listando-se traficantes, assassinos, mercenários, cafetões e homens ricos interessados em diversões. O jovem fotógrafo apaixonado pelas bebidas e pela diversão já se beneficiou muitas vezes dos recursos do distrito, principalmente, as belas prostitutas do local. Já conheceu neste lugar todos os tipos de mulheres e já viu coisas além da imaginação de uma família comum. Também aprendeu até onde alguém pode explorar outro ser humano. Procurava acelerar sempre que passava por algo que julgava perigoso, além de evitar olhar para não se enojar. Mas ao ver um homem socando o rosto de uma jovem não pôde deixar de se comover. Parou o carro e saiu rapidamente aniquilando o homem com seu olhar. O homem respondeu com um olhar agressivo e apertou seus punhos.
-Como é que é idiota? Nunca viu uma vagabunda apanhando não?
-Só vejo um cara batendo numa mulher.
-Mulher?! Isso aqui?! -disse o homem apertando um dedo para jovem que tentava observar seus ferimentos passando suas mãos sobre o rosto.
-Que tipo de homem poderia fazer isso a uma mulher? Ela está sangrando! Meu Deus! -disse Gregory.
-Já disse que ela não é nenhuma mulher. É apenas uma das minhas escravas! E ela vai ter que fazer o que o dono dela mandar! -gritou o homem soltando saliva em seu ódio.
-Você disse que ela é sua escrava não é?
-Sim! Foi o que eu falei. Tem problema com isso? -perguntou o homem dando um passo.
-Eu?! Não!... Só pensei que poderia compra-la de você? O que acha? Assim ela não te dá mais nenhum problema. -disse Gregory analisando que apenas o comércio poderia salvar a jovem de uma surra certa do seu cafetão. Pensou na possibilidade de enfrenta-lo em uma luta, porém, o homem possui fortes braços e uma pistola a tiracolo. Gregory com o canto dos olhos percebeu duas sombras em uma esquina, constatando que tinha mais gente a serviço do vilão.
-Hum! E quanto pagaria pela vadia? Ela custa caro. Olha só pra ela. Tem uns 13 anos, pele branquinha e macia, cabelos loiros como o Sol e faz o serviço como ninguém. -disse o cafetão sorrindo e mostrando dentes amarelados. Gregory pensou “Maldito monstro! Ela é só criança então! Eu já estava o odiando, mas agora...”.
-Quanto quer por ela? -perguntou Gregory escondendo seus sentimentos de esmagar a cabeça do homem e mantendo o sangue frio.
-Ela realmente dá muito trabalho, por isso vou te fazer um abatimento. Custa caro arranjar meninas assim, lindas, pobres e que queiram ganhar seu dinheiro honestamente sem roubar do seu dono! -disse o homem agarrando o queixo da jovem com força para depois soltar em um gesto de violência.
-O que ela fez pra bater nela assim? -perguntou Gregory com medo da resposta.
-Essa vadia teve a coragem de me roubar! A mim! Seu maior benfeitor! -disse o homem fingindo-se ofendido.
-Eu não... -começou a jovem choramingando.
-Quieta! Calada já está errada! -gritou o cafetão.
-Ainda não me disse quanto quer por ela. -disse Gregory apreensivo.
-Hum! Acho que uns dois mil e quinhentos serve. -disse o cafetão com um sorriso animado.
-Certamente pode abater mais por ela ser tão bagunceira? -perguntou Gregory que não tinha todo esse dinheiro em mãos.
-Não! Já está com o abatimento! É dois mil e quinhentos e nada menos! -disse o cafetão.
Gregory procurou opções, mas imaginou que a batalha estava perdida. O cafetão começou a rir e disse:
-Não tem o dinheiro não é mané?! Estou vendo que a garota vai ter que continuar prestando seus serviços.
-Você é nojento.
-Eu sei. Mas não devia dar esperanças a vadia desse jeito, vai que ela te faz de principe encantado! -disse o cafetão rindo e chamando seus dois capangas que já estavam rindo da história toda. Gregory deu meia-volta ressentido e começou a caminhar para o carro. O cafetão pensou que poderia se livrar do fotográfo facilmente, mas considerou que ele voltaria com o dinheiro. “De qualquer forma, se perder essa vadia, tem mais umas mil que posso utilizar”. Gregory aproximou-se do carro quando ouviu ao longe um forte som carregado pelo vento.
-Droga chefe! O que é isso?! -disse um dos capangas.
-Não sei! Mas fiquem ligados! Pode ser um dos malucos! -disse o cafetão.
O som ficou mais forte e Gregory viu um homem aterrisar próximo a ele usando um sobretudo azul. O cafetão arregalou os olhos ao perceber de quem se tratava. Gregory esperou ver o rosto do homem, mas só encontrou uma máscara azul com um J em branco desenhado. O homem apontou o cafetão ameaçadoramente e disse:
-Eu normalmente não elimino alguém que não foi julgado, mas no seu caso, cafetão idiota, eu vou abrir uma exceção!
-Eu te reconheci! Você é o Jurado! -disse o fotográfo entendendo a pessoa por suas palavras.
-Você foi esperto em tentar compra-la, mas com esses tipos, você só tem uma única escolha...
-Maldito Jurado! Por que veio aparecer agora? -gritou o cafetão.
-Sabe como é, eu estava de passagem. A propósito, vocês sabem do Ceifador?
-Não! E mesmo que soubesse herói idiota, não lhe diria nada! -gritou o cafetão.
-Não tenha tanta certeza disso monstro! -disse o Jurado largando um pequeno sorriso.
-O quê? -disse o cafetão dando um passo pra trás e movendo um dedo nas costas para avisar um olheiro numa casa próxima que estava tendo problemas. Gregory percebeu o movimento, ia avisar o Jurado, mas foi detido com uma negativa do mesmo. Jurado observou que os dois capangas estavam armados, por isso puxou seu martelo feito de uma liga metálica especial. Os homens sacaram suas pistolas e o cafetão puxou a jovem pelos cabelos procurando retira-la da linha de fogo.
-Se quer me ajudar e fazer algo de útil, proteja a garota que tentou salvar! -disse o Jurado erguendo o martelo e vendo que os homens começaram a atirar. O cafetão se escondeu atrás de uma coluna com a jovem ao seu lado. Gregory saltou para trás de seu carro e viu como as balas resvalavam no martelo e caiam no asfalto. O Jurado não parecia temer as balas e caminhou calmamente na direção dos capangas. Gregory assimilou um pouco de sua coragem destemida e partiu para cima do cafetão que acertou com um soco no rosto.
-Maldito! Eu ia te poupar, mas agora vou... Te matar! -disse o cafetão puxando a pistola e mirando o peito de Gregory. A jovem num lampejo de coragem empurrou o cafetão um pouco antes dele atirar. A bala acertou a coluna enquanto Gregory lançou um soco lateral que jogou o homem ao chão. Ao sentir o sangue escorrer por seu nariz, o cafetão enlouqueceu procurando sua pistola. Gregory ia disparar outro soco no homem que se fazia de derrotado, porém, sentiu o click da pistola atrás de si. O cafetão ergueu-se com os braços abertos em pura fúria e uma bala atravessou sua garganta. A jovem com a pistola em punho derramava lágrimas que manchavam suas vestes brancas. O fotográfo impressionado procurou tomar a arma enquanto o cafetão caia em uma poça de sangue. A jovem choramingou nos braços do seu herói enquanto sussurava baixinho:
-Morra porco! Morra!
Enquanto Gregory enfrentava o cafetão, o Jurado combatia seus capangas. Ao se aproximar dos dois capangas, eles largaram suas pistolas começando a correr desesperados. O Jurado pegou uma corrente colada a sua cintura e laçou um dos inimigos o puxando para si. O outro parou vendo o colega em apuros, mas apenas para ve-lo perder sua cabeça ao ser acertado pelo martelo da justiça do Jurado.
O Jurado sentiu que mais inimigos vinham para ataca-lo pelas costas, então ergueu seu martelo para trás se protegendo das balas do inimigo. O colega voltou para ver o corpo do primeiro, mas com a mão livre o Jurado o acertou na cabeça com sua corrente. Os homens que trabalham para o cafetão sentiram a chance de derrotar um famoso herói, então todos resolveram aparecer com suas pistolas e metralhadoras em punho.
-Essas armas nojentas não poderão deter o martelo da justiça! -gritou o Jurado fazendo seus inimigos tremerem.
-Não se amedrontem caras! Ele é apenas um!
-É isso mesmo! -gritou outro.
-Não tenham medo que ficaremos famosos! -disse outro.
-Muitos idiotas já disseram-me coisas parecidas e agora estão a sete palmos do chão! -disse o Jurado num tom de voz mais frio e olhando fixamente seus inimigos analisando a batalha antes dela acontecer. Um dos capangas de aparência jovem e destemida apontou sua pistola para cabeça do Jurado. O herói ergueu seu martelo, correu em direção aos inimigos acertando três de inicio, depois chutou a perna de outro que desejava ataca-lo pelas costas, então usando sua corrente apertou seu toráx até sufoca-lo enquanto derrubava mais dois inimigos com a força destruidora de seu martelo. Um deles era o jovem destemido que foi ao chão choramingando. Ao verem vários homens derrotados, alguns capangas desistiram da luta sobrando apenas três que decidiram observar o cafetão estatelado no asfalto. Um dos homens mirou o fotográfo, mas foi atingido no peito antes que pudesse atirar. Outro resolveu largar sua pistola e puxar uma espada de sua cintura começando um duelo de martelo e espada com o herói. A jovem choramingando apertou ainda mais o braço de Gregory que notou que o último capanga se aproximava lentamente por trás do Jurado. Gregory pegou a pistola do cafetão, mas foi poupado de fazer qualquer ação, pois o herói derrotou o primeiro inimigo quebrando sua espada e acertando-o no abdômen e venceu o segundo girando rapidamente em uma meia-volta parecida com a de um experiente dançarino acertando o inimigo na cabeça com seu martelo.
-Pronto garota! Já passou! Acabou a luta. -disse Gregory afagando os cabelos da jovem.
-Morra porco! Morra! -chorou a jovem.
-Ei vocês?! -disse o Jurado se aproximando.
-Em que podemos ajudar?! -disse Gregory admirado.
-Acho difícil me ajudarem! Mas estou a procura de um mercenário conhecido como Ceifador. O julgamento final dele está próximo!
-Não sei onde ele está, mas já o vi uma vez no Bar da Princesa.
-Hum! Já sei. Obrigado por sua ajuda cidadão. -disse o Jurado caminhando para uma esquina ao lado e desaparecendo por ela.
Gregory carregou a jovem até seu carro e no caminho pensou “O que vou fazer agora? Como vou lidar com essa menina? Ai meu Deus!... Mais é melhor comigo do que com aquele monstro”.


FIM

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O Detetive



Capítulo 3: O Detetive

Hudson Carlton olha pela janela de seu imponente escritório na principal avenida do Segundo Distrito da grande cidade de San Cristo. As pessoas caminham apressadamente para mais um dia de trabalho. O dia ensolarado sem qualquer presença de nuvens aumenta as expectativas dos cidadões. Um homem com um charuto na boca encostado numa esquina se vira para uma mulher de cabelos longos pretos caminhando de forma imperiosa em seu sobretudo bege. O homem sorri com dentes amarelados e a mulher percebe sua malévola intenção ao notar que este pousava languidamente seus olhos negros da cor da escuridão em sua bolsa. A mulher pensou em correr, seus pés demonstraram isso em um pequeno tropeço, mas o homem foi mais rápido e afanou a bolsa como se nada mais importasse na vida. A mulher gritou por um policial, porém não havia nenhum na avenida. As pessoas assustadas abriram caminho para o bandido. Hudson puxou um objeto metálico de seu bolso direito, o ergueu lentamente a vista de seus olhos, sincronizou seus pensamentos com o movimento do bandido ao longe. A mulher gritou novamente dizendo que tinha fotos importantes de família na bolsa e perguntou aos céus se ninguém se importava. Hudson gritou mentalmente “Cala a boca mulher! Já estou começando a me arrepender do que estou prestes a fazer”. O bandido satisfeito com seu ganho já imaginava seu próximo passo, que era obviamente, vender tudo que estava na bolsa e conseguir umas pedras para um longo divertimento com sua namorada à noite. Hudson mirou o indíviduo e na luz do Sol sob a janela aparecia a alcunha cruel de um revólver. O bandido pensou nas noites com a namorada enquanto virava a esquina, em sua pele macia de menina e em seu corpo sarado de mulher, saboreou em seus lábios o momento de triunfo, para no segundo seguinte cair estatelado no chão frio do vazio do asfalto, onde todos o rodearam em segundos de inteira repugnância e aplaudiram o misterioso atirador. Hudson respirou fundo e colocou o revólver na mesa.
-Você realmente nunca muda hein meu amigo?! -disse uma voz na cadeira à frente.
-É o que você pensa Gregory? -disse Hudson sentando em sua cadeira e olhando fixamente os olhos negros de seu colega.
-Acho que sua essência principal é a justiça! Você sempre acha que é possível faze-la e nem sempre pensa nas consequências. -comentou Gregory.
-Hum! Agora estou levando lição de moral de um fotográfo beberrão! -disse Hudson dando uma gargalhada.
-É excelente te ver rir meu amigo. -disse Gregory piscando um olho.
-Acho que só você consegue me fazer rir assim.
-Aliás, falando de amizade e felicidade. Você me faria muito feliz me emprestando aquela quantia novamente. -comentou Gregory.
-Nossa! Já está querendo me extorquir! -disse Hudson abrindo as mãos.
-Que é isso amigo! Lembre-se sempre da nossa inesgotável amizade.
-Ah sim! E como fica meu não inesgotável dinheiro.
-Nossa! Que pão-duro! Sei que você está naquele caso do doutor Marrou. E ele é um dos homens mais ricos da cidade. -disse Gregory com ar malicioso.
-Como sabe disso?
-Ah cara! Eu sou um homem informado, apesar de fotográfo beberrão! -disse Gregory apertando a vista.
-Nem me olhe assim. Só fui realista. -disse Hudson olhando para o lado com um sorriso nos lábios. Gregory ficou levemente emburrado, porém, continuou:
-Soube disso dos meus contatos no Quarto Distrito.
-Claro! O porão e o inferno da cidade! -exclamou Hudson.
-Sabe-se de tudo por lá e como sou um frequentador assíduo...
-Gastando meu pobre dinheiro em vadiagens! -cortou Hudson.
-Ah não! Não faria isso com a grana de um amigo. O dinheiro que uso lá é meu e de minhas fotos. -disse Gregory sem inspirar confiança.
-Sei...
-Mas o que apurou do caso hein?
-Seu interesse até me anima, mas sei que não vai entender nada mesmo. -comentou Hudson e Gregory ficou novamente emburrado.
-O doutor Marrou aparentemente matou a esposa como os jornais fizeram tanta questão de alardear. Mas sei por pequenos detalhes que o doutor nada tem a ver com o assassinato em questão. Apesar de ser encontrado dentro de casa em seu quarto e sua mulher morta na sala, ele nada sabe do ocorrido. Acredito que um mercenário foi pago para mata-la segundo informações que obtive ontem.
-Já sabe quem é o cara?
-Não. Mas tenho uma idéia de como posso encontra-lo. -disse Hudson com ar misterioso e fazendo Gregory ficar pasmo.
-Terei de fazer uma visita a um velho conhecido esta noite.
-E posso ir junto?
-É claro que não!
-Depois dessa é melhor eu ir me saindo. -disse Gregory erguendo-se e dando um adeus com as mãos. Hudson ficou aliviado de não perder mais algumas notas em sua carteira e pensou: “Estou salvo por hoje pelo menos”.

Logo mais à noite, Hudson caminha pelas ruas do Terceiro Distrito, onde busca encontrar um velho amigo. Ao passar pelas calçadas observa a podridão que se espalhou nas últimas décadas na próspera cidade de San Cristo. Cidade construída para ser modelo entre as idéias comunistas e capitalistas oriundas da Guerra Fria. Hudson pensou no passado e em como se divertia nas ruas da cidade quase sem problemas, onde havia heróis famosos que cobriam vários pontos da cidade e os bandidos procuravam sempre fugir. A situação está começando a se inverter, onde os heróis se escondem em bairros menores e lutam no dia-a-dia contra a escuridão que adentra os corações dos homens.
O objetivo de Hudson é o Bar da Princesa, onde costumam se encontrar várias personalidades da cidade, incluindo a pessoa a quem procura. No entanto, sabe bem que é um local cheio de discussões e brigas, onde precisa ficar alerto a todas os movimentos. Segundo casos anteriores que resolveu, as chances de encontrar uma informação ou um informante pelo Bar são de 70%. Os gangsters e alguns heróis aparecem por lá para se divertirem e tomarem seus drinques, mas Hudson quase sempre vai a negócios. É um terreno neutro para conversas e acordos graças a interferência de seu mentor e amigo, o homem que ficou conhecido entre os anos 70 e 80 como o “Pistoleiro”.
Ao entrar no Bar, observou a grande quantidade de pessoas instaladas nas mesas fazendo jogos, acordos ou tendo conversas casuais. Era possível ver ao fundo as dançarinas de cabaré mostrando seus corpos cheios do suor de mais um dia de trabalho. Algumas daquelas mulheres tinham que sustentar seus filhos pequenos ou uma família inteira, mostrando as dificuldades da cidade grande. Hudson caminhou com as mãos nos bolsos e olhando os lados para encontrar o que precisava. Seus olhos pousaram num homem encostado no balcão principal onde serviam os drinques. O homem pareceu sentir os olhos em suas costas e virou lentamente. Hudson aumentou seus passos e encarou o homem de cabelos loiros curtos e olhos verdes.
-Ora se não é meu aprendiz! Há quanto tempo que não vem ver seu mestre! -disse o homem abrindo um largo sorriso.
-Deixa de besteira que você nunca foi muito sentimental! Apesar de que é sempre bom rever um velho amigo. -disse Hudson com um leve sorriso.
-Senta aí que eu te pago um drinque. -disse o Pistoleiro fazendo um aceno com a mão para o barmen trazer dois copos.
-Como andam os negócios? -perguntou Hudson observando o barmen colocar o drinque em seu copo.
-Andam muito bem! Os lucros tem aumentado pelo porto seguro que é o meu Bar. Tudo isso graças a intervenção da minha equipe protetora. -comentou o Pistoleiro com um sorriso maldoso nos lábios e bebericando seu drinque.
-Claro! Os seus fantoches e ex-heróis também. -comentou Hudson.
-Nossa Hudson! Não fale desse jeito de seu mestre! Que coisa feia! -disse o Pistoleiro com um sorriso sarcástico e tomando outro gole.
-Mas indo direto ao assunto...
-Como sempre né! -disse o Pistoleiro novamente sorrindo e fazendo Hudson ficar levemente emburrado.
-Vim para buscar informações sobre o assassinato da esposa do doutor Marrou. Tenho sérias desconfianças de que ele não matou sua esposa, além da própria declaração dele.
-Ele não parece o tipo de cara que mataria sua esposa mesmo. Pelo que sei é um homem honrado e um pai amoroso. Conheço bem o tipo.
-Do jeito que fala parece ser algo ruim.
-Não é isso. É que me lembrou de uns sujeitos que conheci.
-Você conhece quase todo mundo por causa desse Bar. -comentou Hudson bebericando seu drinque.
-Tem razão. -disse o Pistoleiro fingindo surpresa. -Mas voltando ao assunto. O que quer de mim?
-Quero saber se tem visto o Ceifador ultimamente? -perguntou Hudson sério.
-Hum! O Ceifador. Elemento perigoso, mercenário sujo que dificilmente pode ser impedido em sua sana sanguinária. Mas faz tempo que não o vejo e acho que ele não matou a esposa do doutor. -disse o Pistoleiro com extrema confiança que não passou despercebida por Hudson:
-O porquê da certeza?
-O Ceifador está se escondendo do Jurado, por causa de um crime que ele cometeu no passado. Algo assim! E você sabe como é esse herói maluco, nunca desiste! -comentou o Pistoleiro pedindo outro drinque ao barmen.
-Se não foi o Ceifador, quem poderia ter sido em sua opinião? Já que conhece quase todos os heróis e bandidos da cidade.
-Ainda diz quase? Eu conheço todos, inclusive alguns que você nem faz idéia e isso me faz ter certa proteção.
-Hum! Sei. -comentou Hudson tomando um gole.
-Para saber algo sobre seu mercenário, preciso saber o tipo de arma? O local onde ela foi encontrada? O local onde ela foi morta? E se havia alguma passagem secreta na casa?
-A arma foi algum objeto pontudo pelo que a polícia pôde averiguar, talvez uma espada ou uma lança modificada. Ela foi encontrada na sala enquanto o doutor dormia o sono dos anjos no quarto. Aparentemente morta na sala, enquanto desceu para beber um copo de água. Isso foi comprovado pela geladeira aberta. Não existem passagem secretas na casa apesar de ser uma mansão e todas as portas foram fechadas por dentro.
-Parece claro para mim algumas coisas.
-O quê?
-Fora aqueles bandidos ou heróis com capacidade de se teleportar que são muito poucos, podemos ter a certeza de que o assassino a atacou por fora da casa de algum lugar privilegiado, talvez uma árvore ou o telhado de uma casa próxima.
-Faz sentido, mas isso eu já tinha pensado.
-Continuando: Partindo do ponto que o ataque a senhora tenha ocorrido de fora da casa e por um objeto pontiagudo. Existem poucos mercenários com a habilidade de lançar um objeto desse e o fazer voltar a sua mão, ainda mais a uma distância dessa. Pois pelo que li nos jornais foi encontrada quase no meio da casa.
-Correto. Realmente não cogitei a possibilidade de ser alguém que pudesse recuperar a arma do crime sem nem ter pisado na casa. -comentou Hudson franzindo o cenho.
-Indo por esse caminho, existem poucos mercenários na cidade que poderiam fazê-lo, excetuando os de cunho heróico. Acho que nenhum herói iria querer prejudicar o doutor, pois o único projeto que sabemos de sua participação direta é o Projeto Extremo.
-Já pensei nessa possibilidade, porém, a maioria dos vilões do Projeto Extremo estão presos e outros foragidos por causa da presença do Extremo 8.
-Esse é um herói interessante e dos meus. -disse o Pistoleiro sorrindo.
-Dessa forma preciso investigar todos com habilidades de manejar armas pontiagudas de longa distância. -comentou Hudson.
-Uma conversa com o legista poderia ajuda-lo a precisar a arma do crime.
-Já pensei nisso também. Bom mestre! Foi bom reve-lo e obrigado por sua ajuda.
-Se fosse outra pessoa, essa ajuda seria em dinheiro. -comentou o Pistoleiro rindo e fazendo Hudson rir com o movimento de mão de seu mestre sinalizando dinheiro.
Hudson apertou a mão do Pistoleiro e fez o caminho de volta para porta. O Pistoleiro continuou bebericando seu drinque, mas algo estalou em sua mente e gritou para Hudson:
-Cuidado!
Uma bola de ferro de um metro e meio de diâmetro adentrou a porta do Bar destruindo o vidro dela em milhares de estilhaços. Um campo de força na cor azul protegeu Hudson dos estilhaços enquanto este colocava os braços no rosto para evitar o choque com seus olhos. Ao acordar para realidade, viu a bola de ferro dentro do salão e uma grande movimentação dentro do Bar, onde todos buscavam refúgio. Olhou para trás e viu um homem com uma roupa composta por botas, calça e camiza azuis, onde suas botas tinham listras prateadas e por cima de sua camisa uma proteção metálica com um desenho de um escudo grego na cor azul só que em um tom mais escuro que o da roupa. O Pistoleiro observou a máscara do sujeito feita de material metálico cobrindo apenas metade do rosto, deixando a boca e o queixo.
-É melhor procurar um refúgio detetive! Meus poderes mentais não são eternos.
-É o Escudo Azul! -gritou uma dançarina agitada e escondida atrás do balcão.
-Droga! É um herói maldito! Posso matar chefe? -perguntou um bandido anão para seu chefe robusto.
-Ta maluco Quibby! Ele ta protegendo a gente agora.
-Valeu pela ajuda Escudo Azul! -disse Hudson correndo para perto do Pistoleiro que ergueu uma mesa para escapar dos estilhaços e estava reclamando com um barmen que deixou uma garrafa de um bom vinho cair no chão.
-Vamos Bola de Ferro! Eu sei que você está aí fora! -gritou Escudo Azul.
-Hum! Desgraçado Escudo Azul! Vou te matar por salvar o meu alvo.
Pistoleiro virou para Hudson que não esboçou nenhuma surpresa.
-Parece que você está sendo bem requisitado meu aluno. -disse o Pistoleiro erguendo sua pistola.
-É. E dessa vez nem sei quem quer me matar. -disse Hudson vendo o Bola de Ferro entrar pela porta destruída e pisando nos cacos de vidro com suas botas metálicas de cor preta.
-Continua com esse capacete horrível! -comentou Escudo Azul.
-Está tirando uma comigo ainda! Agora sim que vou te quebrar todinho! -disse Bola de Ferro puxando sua corrente para mais um ataque. A sua bola de ferro de um metro e meio de diâmetro está ligada a uma corrente marrom e amarrada firmemente em seu braço esquerdo. O capacete é metálico do mesmo material das botas e com a forma de um capacete de jogador de hoquéi. Escudo Azul não pôde deixar de rir com a estrutura desajeitada do gigante Bola de Ferro. Pistoleiro gritou para os dois combatentes:
-Me desculpem amigos, mas a briga de vocês tem de ser lá fora!
-Cala a boca velho! -gritou Bola de Ferro.
-Por mim tudo bem! -disse Escudo Azul abrindo as mãos e irritando ainda mais o Bola de Ferro que investiu em um novo ataque, mas sua arma foi rapidamente repelida por uma colisão com o ar. Bola de Ferro pensou ter enlouquecido ao ver o vento rebatendo seu ataque. Escudo Azul já tinha percebido a presença de outro herói no recinto e preparado para batalha, mas desconfiava da presença de outro, o que se confirmou com o aparecimento de duas pessoas fantasiadas com uma roupa prateada e outro com uma roupa azul com detalhes em branco.
-O Pistoleiro mandou vocês saírem! -disse o homem de roupa prateada.
-Vejam só, o Pulso e a Sônica trabalham pro Pistoleiro. Essa eu não sabia. -comentou Escudo Azul.
-E nem eu. -disse Hudson.
-Eu disse que tinha proteções especiais.
-Ei Bola de Ferro, eu sei que nem você é tão burro de enfrentar nós três aqui dentro. É melhor você ir embora. -disse Sônica com sua voz leve e ao mesmo tempo firme.
Bola de Ferro observou os heróis com cuidado, pensou que poderia derrubar dois deles, mas dificilmente conseguiria parar os três, além de que teria de enfrentar o Pistoleiro e o detetive também. Pulso deu alguns passos em direção ao gigante de ferro, no entanto este ergueu a mão em sinal de paz e saiu caminhando. Hudson ajudou o Pistoleiro a levantar. Sônica e Pulso balançaram a cabeça em sinal de respeito ao Pistoleiro e saíram de cena rapidamente. Escudo Azul voltou a sentar em sua cadeira no canto do Bar. As pessoas voltaram calmamente aos seus lugares.
-Emoções fortes hein?! -disse Hudson.
-Ah! Estou acostumando a ter uma dessas toda semana desde os meus vinte anos.
-Já não tem vinte anos a muito tempo Pistoleiro. -comentou Hudson.
-Nunca duvide das habilidades de um velho meu aluno e tome cuidado com esse caso, pois ele está começando a ficar perigoso demais.
Hudson assentiu com a cabeça e seguiu seu caminho passando pela porta destruída e olhando o redor para ter certeza que o Bola de Ferro cumpriu sua palavra, mas não temia um ataque, pois sabia que o Pulso e a Sônica comandavam a área. Preocupou-se apenas quando chegou a seu carro, onde pensou que o Bola de Ferro poderia estar esperando-o em casa, mas olhou para o céu e viu uma espada dourada saltando entre os prédios, então respirou fundo e entrou no carro. Pensou “Assim termina mais um longo dia de trabalho! E quê dia!”.


FIM