domingo, 27 de fevereiro de 2011

Capítulo 6: A Beleza e a Foice




Capitulo 6: A Beleza e a Foice

Na noite recheada de estrelas da cidade de San Cristo, dois heróis se encontram sobre um pequeno parque no Terceiro Distrito. Os dois olhos se analisam fixamente apesar de cobertos por máscaras que escondem não só a visão, mas também o que está por trás de seus pensamentos. O Jurado com seu poderoso martelo da justiça que cria campos de força para protegê-lo dos perigos e assim caçar aqueles que difamam a justiça e se salvam nos tribunais a custa dos inocentes. A Bruxa com sua face coberta completamente por uma máscara rubra deixando a mostra somente seus cabelos quase azuis misturados a cor lilás e possuindo um ataque mortal em segredo. Os dois se analisam enquanto a Bruxa se prepara para contar uma história, sua história, seu passado, suas amargas lembranças que a tornaram a protetora do bairro das mulheres em San Cristo. O Jurado impaciente com o silêncio e lembrando de seu real objetivo ali, que é caçar o mercenário conhecido como Ceifador movimenta sua mão livre no sentido de chamar atenção da guerreira. A Bruxa balança seus cabelos ao sabor do vento que passa e o Jurado fica um pouco corado pensando “Minha nossa! Como ela pode ser uma Bruxa, se me parece tão linda! Ainda mais assim, coberta pelo luar.
-[ Muito bem, Jurado, a minha história começa com uma garotinha que era bem vigiada pelos pais, muito católicos, fervorosos, que não a deixavam livre nem por um segundo. Ela cresce indo para Igrejas e vendo a beleza das palavras de Deus e admirando os anjos, porque em si possui o drama da feiúra. Uma feiúra marcada por cabelos negros que parecem azuis e um rosto coberto por minúsculos sinais. Os pais da garota sempre a chamavam de feia, em momentos de irritação passava a ser simplesmente “cria do demônio”, tudo isso por causa da feiúra.
A garotinha cresceu com esse estigma e pensou que na escola receberia um pouco do calor que chamam de amizade. Porém, ao chegar na escola em seu primeiro dia de aula foi martirizada por seus colegas e deixada de lado ganhando apelidos como “estranha” ou “infame”. Não demorou para garotinha entrar em desespero, mas não o desespero a quem estamos acostumados, um desespero ligado a sua alma que vinha sendo constantemente torturada pela solidão e pela feiúra. Logo mais, a menina cresce e encontra seu primeiro amor, mas ele a renega por sua terrível feiúra, procurando outra muito mais atraente, deixando a menina que já era sofrida mais dilacerada internamente.
Os anos passam e a menina vira uma mulher, marcada por usar roupas diferentes, sempre muito coloridas e desajeitadas, mas nunca teve uma amiga para lhe ajudar escolher roupas e sua mãe, uma mulher fervorosa, odiava a moda. A mulher ficou conhecida como bruxa por seus colegas no ensino superior e todos praticamente a renegavam ou odiavam. Muitos nem sequer a olhavam com medo de pegar sua feiúra. Só que todos esqueciam que ali residia uma pessoa que tinha muito medo da sua solidão. Logo mais, a garota encontra um jovem que se aproxima, tão belo, gentil e popular que nenhuma mulher poderia resistir ao seu encanto, mas ela descobre depois de amargo tempo que ele só queria usa-la como ferramenta de aposta, a qual ganhou ao fazer a menina dar seu primeiro beijo. Só que a mulher de tão apaixonada implorou para que não a abandonasse, que não queria mais ficar sozinha num mundo tão cruel, que ele a fazia sentir algo diferente e aquele beijo mostrava isso. Ela perguntou se ele não podia sentir aquilo, mas seus olhos frios e sua boca responderam calmamente: “Como eu poderia sentir algo por uma coisa tão feia, inútil e ignorante quanto você”. A mulher entrou em desespero com essas palavras, dessa vez o desespero de querer rasgar suas vestes e correr como louca, o que fez em parte, correndo desaforada pelas ruas da cidade e para melhorar a melancolia do momento foi em um triste dia de chuva.
A mulher depois de chorar até secar suas lágrimas tentou ver o amanhecer de um novo dia indo normalmente para suas aulas, mas sempre que era vista, em vez de ser ignorada como antes, recebia os gracejos ousados e maldosos dos homens e a raiva e o rancor das mulheres. Algumas pessoas que antes nem olhavam passaram a ver e falar, mas não como a mulher e a menina esperavam, e sim da forma como mais temiam. Aonde entra o respeito por outra pessoa que tanto se fala na Bíblia? Será que os seres humanos são todos assim? Eram perguntas que a mulher queria as respostas, mas ninguém se importava em responde-las. Com o tempo a mulher descobriu que o mundo dos livros e das experiências era onde se sentia útil e um pouco melhor. Caiu nesse mundo com paixão, até ser interrompida repentinamente pela cruel morte de seu pai em um tiroteio. Era só mais um inocente que caia morto nas ruas de San Cristo.
No enterro do seu pai, poucas pessoas se faziam presentes e nenhuma delas lhe deu algum conforto, pois temiam pegar suas espinhas e se manchar com a estranha de seus cabelos. A mãe que antes já lhe falava coisas ruins, abandonou a igreja e passou a viver sua rotina em silêncio, sendo que sempre ao se dirigir a filha era com veneno em sua voz. A mulher finalmente saiu de casa deixando a mãe e tentando aliviar sua dor se aprofundou ainda mais em seu laboratório, onde fez uma poção que procurava deixa-la mais bela e atraente para as pessoas, pois assim nunca mais ficaria sozinha. Só que a poção falhou nesse ponto, mas há males que vem para bem, como dizem, pois a poção deixou-a mais forte fisicamente, mais ágil, sentia-se pela primeira vez invencível e assim decidiu combater o mal que assola San Cristo tornando-se uma heroína.
Como uma heroína caminhando como uma vigilante pelas noites percebeu o quanto o Mundo valoriza a beleza e o poder, estes andam de mãos dadas em sua construção. E finalmente as palavras sagradas lhe fizeram sentido, pois era na beleza dos homens dadas por Deus que estava a verdadeira força transformadora e muitas vezes opressora. Essa idéia ganhou certeza ao descobrir como as mulheres eram utilizadas por sua beleza para serem escravas no mercado paralelo, um mercado internacional do crime que usa até meninas para satisfazer velhos moribundos e cheios de dinheiro. Essa situação, fez esta mulher e heroína que você vê se tornar a real protetora deste bairro, que possui esse nome inteiramente por minha causa. E assim protejo este local sem ajuda de nenhum homem de todo o tipo de mal]. Por isso não é bem-vindo aqui!

Um silêncio mortal se intercala entre o término da história da Bruxa até a reação do Jurado que baixou a cabeça em resignação. A Bruxa viu que ele abaixou o martelo da justiça ficando levemente vulnerável. O Jurado ergueu sua cabeça lentamente e encarou a máscara rubra da Bruxa. Ela deu um passo pequeno e angustiado para trás temendo um combate, pois sabia que não seria nada fácil combater alguém como o Jurado. Porém, o homem resolveu que não queria uma briga e sim uma conversa, que começou com uma simples exclamação:
-Beleza não é tudo!
A Bruxa recebeu o impacto da frase não por ela em si e sim pela certeza que o tom de voz que seu locutor a imprimia. O Jurado continuou:
-Você acredita que a beleza e o poder estão no controle desse mundo, mas será que entendeu o que é a verdadeira beleza e o verdadeiro poder? Eu ouvi bem a história e fico triste de saber que não teve amigos em sua jornada, é muito triste uma vida assim, sempre é. Mas se quiser e se estiver disposta a abrir um pouco do seu coração, saiba que pode encontrar um amigo em mim.
-Mas que droga é essa que está dizendo?! Mal nos conhecemos e você já vem com esse papo de amizade!
-Te conheço o bastante, pois você acabou de me contar sua história. E ao contrário de muita gente eu observei a dor e a solidão dela. Você usa sua máscara para esconder a feiúra que carrega, mas não sei como uma mulher de cabelos tão incomuns e com tanto mistério em seu movimentar possa ser realmente feia. -disse o Jurado voltando a ficar corado. A Bruxa dessa vez notou e por um momento se sentiu em paz.
-Sei que atravessou momentos difíceis, mas se quiser não precisar mais ficar sozinha. -disse o Jurado estendendo sua mão e caminhando para heroína. A Bruxa ficou paralisada diante da paz que o homem carregava em si e tentou mensurar a imagem de guerreiro agressivo que mata por justiça com um homem que tenta salvar uma alma perdida não conseguindo realmente compreendê-lo. O Jurado ficou de frente para Bruxa que deixou cair lágrimas de sua máscara, então o herói apanhou algumas com sua mão livre e ia tocar o rosto da mulher. A Bruxa percebeu o movimento e deu um passo pra trás passando a mão no rosto para retirar as lágrimas.
-Não precisa mais chorar em segredo. E nem guardar suas lágrimas amargas. Tente dar a si mesma um pouco de paz e felicidade.
-Como você... -a Bruxa ia dizendo, mas foi interrompida por um rápido movimento do Jurado que a abraçou. Os dois voaram em pleno ar enquanto rajadas de balas surgiam por todos os lados. A Bruxa se sentiu pela primeira vez protegida e nunca pensou que isso poderia ser tão bom, ser protegida em vez de proteger, ter alguém para chamar de herói e mesmo nesses segundos no ar conseguiu agradecer ao Jurado por suas palavras de esperança. O Jurado recebeu três tiros em seu corpo de forma a evitar que atingissem a Bruxa, seu martelo poderia protegê-lo se estivesse erguido, mas se fizesse isso a jovem ao seu lado morreria. Os dois caíram sobre a areia do parque aparentemente desmaiados pelo choque e os bandidos resolveram sair de sua escuridão. Dentre eles um com um grande foice disse:
-Desculpe atrapalhar o momento romântico dos heroizinhos! Mas está na hora de serem fatiados por minha foice! Estava me procurando Jurado? Estou a um passo de você sempre seu idiota!
-Calma Ceifador! Eu acho que eles dariam um bom dinheiro num leilão com mafiosos. Muitos iriam querer a cabeça do Jurado! Mas a Bruxa tenho negócios pessoais com ela. Ela vai me pagar pelo que me fez! -disse um homem de terno cinza com várias cicatrizes no rosto.
-Robert Robespierre... -sussurrou a Bruxa.
-Ela está viva ainda! Que maravilha hein Robert? Ter sua vingança! -disse o Ceifador.
-Isso mesmo! Vai pagar pelo que fez ao meu rosto vadia! -disse Robert caminhando sozinho para o corpo destroçado da Bruxa. O Ceifador ansioso por ver uma morte baixou sua foice e colocou o queixo sobre ele de forma a assistir de uma forma melhor. Os bandidos com suas pistolas também sorriam mostrando seus dentes amarelados e felizes por acabarem com dois heróis de uma vez. Robert retirou uma faca da cintura e avidamente caminhou para guerreira, mas não viu que o Jurado ergueu-se rapidamente e o socou três vezes no rosto, cinco vezes no tórax e oito vezes no abdômen. Os movimentos foram extremamente rápidos para um homem comum tanto que os bandidos demoraram de preparar suas armas, apenas o Ceifador conseguiu vê-los com precisão, mas a distância o impedia de fazer qualquer coisa. A Bruxa percebeu que o sangue do Jurado manchava a areia e este caiu para frente enquanto Robert Robespierre caiu para trás.
-Robert você é um tolo! Não devia ter se aproximado tanto! -disse o Ceifador.
-Agora é minha vez de lutar Ceifador! Vou fazer você desaparecer deste bairro! Esse lugar não é para um imundo como você! -disse a Bruxa apontando suas ameaçadoras unhas para o inimigo. Os bandidos apontaram suas pistolas, mas o Ceifador ergueu o braço:
-Deixem ela comigo. Quero ver se ela me diverte um pouco.
A Bruxa fechou seus punhos e olhou de soslaio para o herói derrubado, onde sua mente quase gritava um tímido, mas importante “obrigado”.

FIM

2 comentários:

  1. Obrigado pelo comentario. Realmente a diferença entre o Dono que ama e o carrasco é a sanidade e a doença mental de alguns. Sem confiança e amor, só fica a doença e o descuido.. Amo minha sub namorada!

    Abraços!

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  2. Muiiito massa!!!
    Adooorei a história....
    é muito interessante, prende o leitor do inicio ao fim....bjos

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