sexta-feira, 6 de maio de 2011

Capitulo 17: Me dê esperança



Capitulo 17: Me dê esperança!

Dora Fontanie lava os pratos em sua casa de cortiço no Terceiro Distrito da cidade de San Cristo. Seus filhos Peter e Joe estão brincando de carrinho na sala e ao mesmo tempo assistem televisão. Dora estava apreensiva com a demora do marido, mas em seu íntimo já imaginara por onde ele estava e até com quem estava. Seu corpo demonstrava suas irritações profundas através do exaustivo suor que escorria de sua alva pele, para limpa-lo utilizou suas mãos cobertas pela luva de cozinha e assim liberou o coque que prendia seus longos cabelos pretos lisos. Dora já sentiu orgulho de ter cabelos tão bem cuidados, em uma época onde o marido era um romântico apaixonado, que lhe fazia serenatas à porta, lhe enviava flores com cartão quase todos os dias e sempre dizia que a amaria para sempre. Isso tudo mudou com o tempo e agora só conseguia ver o marido pela noite, normalmente com o cheiro de uma mulher da rua o infestando com perfumes baratos e o fedor da cachaça que ardia em seus lábios. Dora pensava em largar tudo, a casa, o marido, os filhos e voltar a viver um novo romance, mas sempre voltava a questão que uma mulher não podia abandonar seus filhos, portanto, sofria calada as traições do marido que chegava a ficar dias fora e quando voltava sua explicação se resumia “Tive que fazer uma reunião na empresa, sabe como é né!”. Dora queria mostrar a ele como ela sabia de tudo, queria fazê-lo sentir toda a dor que ela estava sentindo, fazê-lo pagar pelos anos de sofrimento, abandono de lar e solidão, mas tinha as crianças que ela não podia abandonar e elas simplesmente adoravam o pai.
A porta da frente da casa se alargou, Peter e Joe correram com um largo sorriso em seus rostos infantis de apenas, 7 e 10 anos de idade respectivamente. O pai, um funcionário de uma empresa multinacional localizada no Segundo Distrito da cidade vinha todo perfumado da rua e muito animado como se o atraso para o jantar não o incomodasse nem um pouco. Peter perguntou ao pai se ele trouxera presentes. Joe pediu o seu quase que imediatamente. O pai puxou um carrinho de bombeiro da sacola e avisou aos dois que eles teriam de dividir o presente, o que desagradou a ambos. Dora chegou à sala com a face vermelha de raiva. O pai abriu um largo sorriso de boas-vindas e caminhou com a intenção de abraça-la como anteriormente fazia, antes de ter as crianças e de se casarem. Dora gritou:
-Como você tem a coragem de chegar esse horário e me mostrar essa cara lavada!
-Calma Dora! Você está se preocupando a toa...
-Eu!... Eu me preocupando a toa! Você passa a vida toda me colocando chifres e eu fico aqui apenas chorando a sua ausência!
-Eu não fiz nada disso. Por que me acusas tanto amor?! -perguntou o marido procurando conforta-la.
-Você é um canalha!... Não! É o pior dos canalhas! Nem as crianças você respeita...
-Peraí mulher! Não fale besteira! Eu adoro meus pequenos.
-E a mim? A mim você ainda ama? -disse Dora entre lágrimas fervilhantes que poderiam junto a seu suor se tornar um rio.
-É claro que amo querida. -disse o marido sem hesitar, mas mostrando um sorriso sarcástico.
-Você não presta! Eu tenho de sair daqui, eu preciso... -disse Dora correndo para o quarto, mas o marido ficou à frente tentando impedi-la e localizando seu olhar para amansa-la. Dora não queria ser detida, não desta vez, porque sabia que seu marido a controlaria caso terminassem na cama. Peter e Joe brincavam no chão ignorando as altas vozes dos pais. Dora gostava desse ar desligado das crianças, pois assim podia gritar mais e do fundo do coração. O marido segurou seus braços, Dora se sentiu impotente ante a força do homem, o marido aproximou seu rosto do de Dora que balançou o rosto rapidamente tentando escapar. O homem disse:
-Você tem de entender amor. Que você é a única... Que amo!
-Não! -gritou Dora empurrando o marido ao chão buscando forças de locais que nem podia imaginar, mas estando finalmente livre de seu controle, então correu para o guarda-roupa, jogou o avental e a roupa de dona-de-casa na cama, pegou roupas para sair como um vestido preto e um casaco. O marido ergueu-se e gritou:
-Pra onde você pensa que vai?! Ainda mais assim!
-Vou sair como você faz! Quem sabe eu não me divirto um pouco...
-Está querendo me desafiar mulher! Você não sustenta essa casa e nem as crianças, você apenas cuida da casa como toda boa mulher sabe e deve fazer.
-E você é um porco! -gritou Dora empurrando o marido e correndo para porta da frente, porém, parou diante da maçaneta e olhou Peter e Joe tão animados com o brinquedo novo trazido pelo pai. Peter a olhou calmamente com seus olhos verdes sempre brilhantes e perguntou:
-Por que ta chorando mãe?
-Preciso ir meus queridos, mas volto logo. -disse Dora indo abraçar as crianças, mas foi impedida pelo marido que a derrubou com um empurrão.
-Não vai me abandonar aqui assim! Não é o que uma mulher direita tem de fazer.
-E o que uma mulher direita tem de fazer Carlos? Sofrer e sofrer enquanto seu marido só a trata como lixo! -gritou Dora abrindo a porta e ganhando o mundo. O marido socou a porta violentamente por alguns segundos, caminhou para cozinha e procurou sua janta, então pensou “Ela deve estar de TPM, logo ela volta, sei que jamais abandonaria as crianças, mas quando voltar, ela vai implorar meu perdão. Ah se vai!”.

Dora chegou ao Quarto Distrito após pegar um táxi, queria ir a um local deserto e desaparecer. Sentia que nada mais fazia muito sentido, enquanto as imagens de sua vida caminhavam em sua mente. Seu namorado, o único que teve, tão romântico e apaixonado se tornou seu marido, um homem que só a traí e a maltrata dia e a noite com a ausência e o esquecimento, principalmente, depois que conseguiu uma promoção em seu emprego. Dora chutou uma latinha de refrigerante que estava em seu caminho e esta correu para uma esquina. Notou que a rua estava muito mais vazia do que se lembrava de caminhadas em sua infância, porque nasceu, cresceu e viveu uma parte de sua vida na área mais podre da cidade, que todos conheciam como o Quarto Distrito. Dora foi para esquina da latinha e encontrou um mendigo encostado á parede e inquieto como se tivesse a temer a morte. Dora aproximou-se e antes de conseguir falar com ele, uma explosão afetou a rua á frente e Tornado saiu da fumaça como uma cambalhota. Raios Estáticos com a mão direita explodindo de emoção com seu colorido violeta tentava golpear o herói. Tornado escapou de um golpe que Dora acreditava ser impossível, pois o vilão encostou o herói num muro, mas o último agachou e rolou para o lado. Dora puxou o mendigo para si e perguntou:
-O que está acontecendo?
-Não viu não moça! O Tornado ta protegendo a gente do Raios Estáticos. Sempre quis ver uma luta assim de perto. É incrível né?! -disse o mendigo chamado Crosby.
Dora odiou sentir o fedor de cachaça no homem, porque lembrou vagamente seu marido , mas ao ver Tornado escapar de mais um ataque de raios violeta do Raios Estáticos acabou esquecendo de tudo. Dora pensou “É assim que posso esquecer a minha dor! Eu nunca tinha prestado muita atenção nesses heróis, mas...” O pensamento da dona-de-casa foi interrompido pela ação de Tornado em salvar um velhinho de uma das esferas do Raios Estáticos. O vilão gritou:
-Se continuar salvando esses vermes vai acabar morto!
-O único verme que vejo nessa rua é você! -disse Tornado abrindo os braços, fechando os punhos de forma a absorver o ar ao seu redor, lançando uma mão à frente e correndo para Raios Estáticos ao dizer:
-Metralhadora de Socos do Ar!
Tornado saltou um carro usando outro como apoio, aproximou-se de Raios Estáticos e lançou tantos socos no ar em alta velocidade que nem o vilão os conseguiu ver. Crosby vibrou ao ver Raios Estáticos ser metralhado por dezenas de socos aparentemente invisíveis. Dora ficou boquiaberta e seu único pensamento era “Vença por todos nós!”.
Raios Estáticos foi lançado sobre a coluna lateral de um prédio pequeno abalando a estrutura, mas não derrubando-a. Tornado sabia que o inimigo não desistiria, mesmo diante da quantidade imensa de ferimentos que provocara. Raios Estáticos ergueu-se como se não houvesse recebido nenhum golpe, limpou a roupa como se tivesse em uma festa elegante e focalizou o herói com olhos que pareciam lançar fogo. Dora ficou impressionada pela tensão que os dois podiam liberar no ar e sentiu pela primeira vez que seu marido romântico e aparentemente maravilhoso era apenas um homem comum, enquanto haviam outros tão poderosos e especiais. Crosby sorria com uma felicidade incomum a um mendigo e até isso Dora achou impressionante. Tornado e Raios Estáticos encontraram-se novamente em uma troca de ataques e defesas consistindo no uso de socos, chutes e pontapés, mas sem qualquer efeito maior em qualquer dos usuários. A única coisa que os dois fizeram foi deixar a platéia ainda mais nervosa pelo resultado do combate. Tornado arriscou um soco no estomago, mas Raios Estáticos mudou de lado para desviar, então socou o rosto e o peito do herói que cambaleou. Tornado revidou com um chute frontal no peito do vilão que coçou a área atingida. Tornado agachou rapidamente e provocou uma rasteira, mas Raios Estáticos se salvou da queda utilizando as duas mãos e plantando bananeira. Tornado planejou lançar uma onda de vento, mas Raios Estáticos gritou ao abrir as mãos e juntar as garras:
-Onda Estática Convulsiva!
Tornado recebeu uma onda de choque na cor violeta que percorreu todo seu corpo e o lançou a vários metros pela rua. Raios Estáticos respirou fundo como se a luta tivesse terminado. Tornado caiu perto de Crosby e de Dora que se aproximaram para vê-lo. Tornado não podia sentir seu corpo e por um momento pensou que só existia seus olhos. Crosby gritou desesperado:
-Por favor não morra! Assim não!
-É. Fique vivo... -disse Dora timidamente, mas seu coração explodiu com uma idéia e gritou com toda a força dos pulmões:
-Me dê esperança!
Tornado acordou com as palavras de Dora e conseguiu fazer o ar que antes mal podia sentir graças a ação paralisante da Onda Estática Convulsiva o rodear em alta velocidade e diminuindo os efeitos do golpe. Tornado ergueu-se, mas um de seus braços e parte do tronco estavam sob o domínio violeta de Raios Estáticos. Dora ajoelhou-se e começou a chorar. Crosby tentou conforta-la com pequenos tapinhas. Tornado agradeceu com um aceno de cabeça e caminhou para Raios Estáticos que sorriu ao ver as fraquezas impostas ao herói.