sexta-feira, 29 de abril de 2011

Capitulo 16: Um estranho convidado e o Bombardeio Violeta



Capitulo 16: Um estranho convidado e o Bombardeio Violeta

A Lua parecia brilhante aos olhos de Crosby, mas o que não lhe parecia brilhante com uma vida destroçada como a sua. Algumas pessoas poderiam considerar que o que ele tinha nem poderia se chamar de vida. Crosby só se orgulhava de uma coisa na vida, o fato de que conhecia bem as ruas da cidade de San Cristo. Já pôde testemunhar coisas que vão do maravilhoso ao bizarro. Caminhando pelas sombras da escuridão inebriado pelo cheiro da cachaça que carrega consigo para aliviar sua dor procurava assim afastar as lembranças que lhe apunhalavam o coração. Uma mulher bonita que sentiu que o amava, mas não demorou a abandona-lo por outro mais rico e importante, um bancário pelo que sua mente ainda lembrava. Um filho maior que custeou tudo em sua vida, mas que sempre procurou a saia da mãe, inclusive o odiando, mesmo o tratando com todo o carinho. Um filho menor que não teve nem a chance de conhecer direito, pois a mãe o levou de si diante de sua eminente miséria. Sua casa feita de madeira de lei perto de um jardim florido no Primeiro Distrito que acabou perdendo para o banco num movimento errado em seus negócios. Seu trabalho como consultor financeiro numa empresa que perdeu diante da bebedeira e das discussões frequentes com os chefes. Crosby pensou “O que será que eu tenho na vida Deus?! Hein Deus? O que eu tenho?!”. Em seguida, lançou sua amada garrafa sobre a porta de uma garagem. O vidro espalhado pelo chão com algumas gotas da preciosa bebida chamou sua atenção como uma sofrível tentação e assim correu agachado para seu vício.
Crosby caminhou agachado se movimentando com olhos fixos no líquido que escorria lentamente do que anteriormente era o fundo da garrafa. O pobre mendigo esticou o braço, sentiu que estava perto, sua língua e seu coração palpitavam de emoção e um quê de alegria, mas também de uma interna e cruel solidão. Crosby pensou no filho menor e parou a alguns centímetros do seu líquido precioso. O sorriso em sua face o lembrou sua própria juventude que fora feliz com heróis protegendo as ruas unidos com a polícia, tinha sua cuidadosa mãe e seu protetor pai. A força dessa imagem o fez retroceder em alguns passos, tateou a parede ao lado encontrando forças nas pernas um pouco bambas e ergueu-se para se banhar com a luz do luar. O líquido precioso também brilhava ao longe o chamando como um doce veneno na escuridão. Podia sentir a picada do escorpião sem ao menos toca-lo, o gosto adocicado e amargo aparecia em seus lábios e em sua língua e uma ânsia lhe subia não só no corpo, mas também no espírito. O mendigo começou a chorar diante da vontade louca que o impelia, apontou os estilhaços com o dedo indicador e disse:
-Saí de mim demônio! Não te quero mais...
A voz de Crosby foi fraquejando antes de se aproximar das reticências até parecer um grunhido. Caminhou novamente para os pedaços de vidro com a intenção de chuta-los para longe com seus sapatos surrados de tantas andanças pela cidade em busca de alimento ou de abrigo. Agachou próximo ao seu líquido precioso, o tocou com a ponta de um dos dedos e sua mão teve apenas o trabalho de levar aquela delícia viciante a ponta da língua. Crosby respirou fortemente e pensou “Bom! Muito bom! Eu preciso de mais, eu preciso arrancar essa dor, eu mereço mais...”. Crosby ergueu-se com olhos famintos e correu para uma rua mais larga onde ouviu um alvoroço. Algumas pessoas corriam assustadas e passaram por ele sem ligar para o fato de que é um mendigo e só isso as faria pular de medo. Crosby arregalou os olhos ao notar que dois seres se golpearam em pleno ar e depois voltaram ao chão tão rapidamente que seus olhos não puderam acompanhar. Agora tinha plena certeza de estar bêbado. Um homem a seu lado gritou:
-Saí daí cara! Eles não estão pra brincadeira!
-A coisa é séria! -gritou outro.
Crosby os ignorou e caminhou para estranha luz violeta que um dos dois emanava. O outro ser com uma roupa predominantemente verde gritou:
-Não será tão fácil me derrotar Raios Estáticos!
-É isso que veremos Tornado! -disse Raios Estáticos abrindo os braços para chamar a energia estática violeta que começava em seus braços e rodeava os punhos antes de cada ataque. Tornado ajeitou sua máscara de carnaval verde com uma listra cinza e abriu os braços eretos ao ombro com as mãos espalmadas esperando um ataque. Raios Estáticos vociferou:
-Receba isso e morra Tornado!... Bombardeio Violeta!
Uma chuva de esferas roxas viajaram do punho do vilão em direção ao herói. Crosby quase engasgou ao ver as luzes que lhe pareceram tão lindas. Tornado com saltos laterais e cambalhotas escapou de dezenas de ataques que ao tocarem o solo ou as paredes das casas provocavam explosões. Crosby notou que os locais que eram atingidos liberavam faíscas violetas por alguns segundos como uma fogueira que se mantém por si própria. Tornado saltou para uma janela no quarto andar de um prédio utilizando sua habilidade de manipular o ar ao seu redor e o impulsionando. Raios Estáticos o seguiu com seu olhar de assassino, mas sentiu um arrepio estranho na espinha. Tornado percebeu Crosby caminhando para Raios Estáticos e foi fácil compreender que estava bêbado, mas outro fato lhe chamou maior atenção que foi a presença do bandido Charles Jones com uma pistola em punho.
-Parece que a morte de seus companheiros não foi o suficiente Jones! Terá que morrer por sua falta de lealdade. -disse Raios Estáticos sem se virar, mas sabendo que Charles Jones o mirava com sua arma. Crosby ficou impressionado com a perspicácia de Raios Estáticos e começou a bater palmas numa situação que beirava o ridículo. Tornado olhando de seu ponto seguro pensou “Que homem mais estranho. Ele está fazendo parecer que o Raios Estáticos é o herói. O que a bebida não faz com um cara hein?
Charles Jones ao ver Crosby bater palmas achou um insulto a sua pessoa, então virou bruscamente a pistola mirando a cabeça do mendigo. Raios Estáticos percebeu a mudança acompanhando a flutuação do ar e moveu-se rapidamente de forma a aparecer pelas costas de Jones. Crosby continuou a bater palmas como se estivesse num circo sempre focando seus olhos na beleza das emanações violetas de Raios Estáticos. Tornado começou a dar socos no vazio buscando ganhar força e resistência, enquanto Raios Estáticos tão habilmente carregava Jones pelas costas o erguendo do asfalto. A pistola caiu com um forte ruído e disparou um tiro. Tornado acompanhou a bala com o olhar, mas se sentiu aliviado ao constatar que a rua estava praticamente vazia, a exceção de uns poucos curiosos, do mendigo animador e de Charles Jones.
-Por favor, Raios Estáticos, eu te imploro não me mate! -gritou Jones enquanto Raios Estáticos gargalhava com uma felicidade fora do comum ao torturar uma pessoa. Tornado continuou a dar socos no ar sem aparente motivo. Crosby sentiu a falta do homem de verde e ficou escrutinando os céus a sua procura. Raios Estáticos queria maltratar Charles Jones, porque este traiu a família Patrick, uma das mais importantes da máfia da cidade ao sequestrar uma garota sem permissão da família com a intenção de obter dois resgates. Raios Estáticos veio apenas cobrar a lealdade de Jones, mas terminou querendo mata-lo e agora sua vontade estava prestes a ser saciada. Crosby voltou seus olhos novamente a Raios Estáticos. Jones pediu ajuda com os olhos enquanto sentia seus músculos e ossos arderem com o aperto dado pelo abraço do vilão.
-Vai matar ele? -perguntou Crosby com um ar inocente.
-Ah! Com certeza! -disse Raios Estáticos com um sorriso malicioso.
-Então eu quero ver. -disse Crosby de uma forma casual.
-Olha só Tornado! Não é só os heróis que tem fãs! Eu acabei de ganhar um que gosta de me ver matar. E como os heróis, os vilões não gostam de desagradar seus fãs! -disse Raios Estáticos virando para o local onde está Tornado e notando que ao redor de seu punho direito se formou um grande bolsão de ar que liberava estranhos zunidos. Crosby bateu palmas para Tornado dessa vez. Raios Estáticos franziu o cenho e disse:
-Ei! De que lado você está mendigo?!
-Me ajuda... Por... -disse Jones agonizando.
-Punho do Vento! -gritou Tornado liberando seu bolsão de ar.
Jones arregalou os olhos temendo ser vítima do ataque do herói. Raios Estáticos fez algo que lhe pareceu estranho que foi salva-lo o jogando para cima de Crosby. O bolsão de ar que saiu do punho direito de Tornado tomou a forma de um punho composto de puro vento e este emitia pequenos ruídos dilacerantes. Raios Estáticos lançou os braços à frente e gritou:
-Bombardeio Violeta!
As esferas violetas de Raios Estáticos encontraram o golpe de vento do Tornado. Uma explosão próxima ao solo ocorreu e uma cortina de estilhaços, fumaça, dejetos e poeira se ergueu ante a rua quase deserta. Crosby se irritou com o corpo de Jones sobre si e o empurrou para longe. Tornado pensou ter ganho a luta, então foi ao chão verificar o estado dos civis. Jones desmaiou de emoção e estava detido por enquanto. Crosby começou a coçar a cabeça como se tivesse lembrando que não deveria estar naquele local. Tornado aproximou-se e disse:
-Você é certamente uma das pessoas mais estranhas que eu já vi.
-Ei? Me diz o que eu fiz? -disse Crosby coçando a cabeça.
-Parece que a explosão curou a bebedeira. Mas como você é um civil eu tenho de lhe aconselhar a sair daqui. O Raios Estáticos não seria derrotado com isso...
-Raios Estáticos?! -perguntou Crosby confuso.
-Sei que não vai entender nada sem tomar um café. Por isso vá para casa, tome um banho e um bom café e de preferência durma. -aconselhou Tornado.
-Não tenho casa não moço, mas obrigado! Me diz só uma coisa?
-O quê?
-Fiz alguma coisa errada? Machuquei alguém?
Tornado lembrou do mendigo batendo palmas ante as atrocidades do Raios Estáticos, mas respirou fundo e disse:
-Não. Apenas saía daqui antes que se machuque.
-Qual teu nome moço? -disse Crosby ainda coçando a cabeça com a ressaca.
-Eu sou o Tornado.
-Aquele herói?! Nossa! Prazer conhece-lo, finalmente tive alguma honra nesta vida. -disse Crosby com um ar inocente e um sorriso sincero. Tornado sentiu pena do infeliz, mas sentiu perigo ao redor dos dois, então disse:
-Por favor, agora é sério! Preciso que se afaste!
-Ora e porquê?! -gritou Raios Estáticos aparecendo com um salto. -Maldito Tornado! Converteu meu fã hein!
Crosby correu para uma esquina, mas Raios Estáticos com olhos pedindo sangue e um de seus braços ferido pela explosão apareceu á sua frente. O mendigo tremeu dos pés a cabeça sentindo ser a hora de sua morte. Tornado lançou um soco lateral no rosto do inimigo e um chute em sua costela. Raios Estáticos arrastou-se pelo asfalto e levantou-se prontamente lançando uma esfera violeta sobre Crosby, mas Tornado recebeu-a no peito no lugar do mendigo. Crosby continuou a correr para esquina. Raios Estáticos riu ao ver Tornado de joelhos através de seu golpe.
-Acho que vou matar meu ex-fã! Aproveite a morte desse infeliz Tornado! -disse Raios Estáticos erguendo o braço. Tornado gritou:
-Nem pensar!... Tornado Espiral!
Tornado reuniu o ar ao redor dos punhos e o fez girar em alta velocidade e sincronia criando um pequeno tornado a partir do solo que elevou o vilão às alturas enquanto diversos golpes laterais afetavam suas costelas e as costas. Crosby chegou a salvo na esquina. Tornado respirou aliviado. Raios Estáticos caiu sobre o capô de um carro destruindo parcialmente a parte da frente e destruindo o vidro. Tornado levantou e pensou “Será que Mão de Fogo resgatou a menina?! Droga! Tenho certeza que essa luta ainda não acabou”.


6 comentários:

  1. Ilton,Querido!
    vim agradecer pelo seu carinho no meu espaço,é um prazer enorme ler seus comentários!
    Desejo que tenhas um ótimo fim de semana.
    Beijo grande*

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  2. Oi,Ilton!Respondendo ao comentário que tu fez lá no blgo, os exemplos que eu tenho de casamento tambem não são os melhores,mas nem por isso eu deixo de crer no amor, e além do mais as pessoas mudam e também os sentimentos o que ontem parecia eterno hoje não é mais.Antigamente os casamentos eram eternos não porque o amro era eterno,mas por causa dos costumes da época, geralmente as mulheres eram dependente economica e as vazes emocionalmente dos seus maridos, hoje as coisas evoluiram o mundo mudou.
    Beijos

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  3. oi, é alucinante, além de emocionante sua estória. Você mostra um domínio muito interessante da língua como em "A voz de Crosby foi fraquejando antes de se aproximar das reticências até parecer um grunhido." gostei muito. E como você mesmo diz ao fim "Tenho certeza que a luta ainda não acabou"

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  4. Ilton,
    Passando para deixar meu carinho pra ti,és sempre querido no meu espaço,e tê-lo por lá é uma honra,e devo admitir que um dos melhores comentários que recebo vem de ti,já pensou em criar um outro blog para expor teus pensamentos além de estórias fascinantes como essa? ;)
    Um beijo grande pra ti!

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  5. Olá, Ilton!

    Vim te agradecer pelo carinho e visita! Pena que nem todos pensem em consensualidade...

    Rapaz, devias por teu texto em um livro, ficaria ótimo! Voce escreve muito bem!

    Beijos e ótimo fim de semana!

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  6. Olá I.D., vim retribuir a visita e o carinho, como sempre seus textos me consomem... ah! fico aqui ansiosa por saber do mão de fogo e do tornado, enfim, de todos os personagens, mas tudo ao seu tempo, certo?
    Pois é, eu sou fã da anne rice, então pode ficar sossegado que meus vampiros são seres do bem! e muito românticos tbm! kkkk
    Bjos se cuida e tenha uma linda semana.

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