terça-feira, 15 de março de 2011

Capítulo 10: O início de uma promessa




Capitulo 10: O início de uma promessa

Mão de Fogo, um herói em roupa vermelha, sobrevoa as ruas da cidade de San Cristo. Seus incrivéis saltos sobre os tetos dos prédios, sacadas e janelas de casas ou sobre seus telhados deixam fortes marcas de sua persistência e coragem. Seu corpo desliza sobre a noite estrelada enquanto pequenas brisas o envolvem sem dominar o fogo de seu ser. Sua mente corre ligeira e determinada como uma chama intensa que se alastra por uma floresta. Sua alma impregnada do mais puro fogo não tem tempo para admirar a beleza da noite e nem a crueldade que assola o chão da cidade. Nele, só há pensamentos que se confundem com a interminável pressa de fazer uma diferença. “Não posso perder mais tempo! Cada minuto perdido pode ser uma derrota. Preciso encontra-la , antes que eles a façam mal. Malditos monstros! Eu prometi! Eu vou cumprir! Nem que para isso a morte me pegue no caminho”. Mão de Fogo aterrisa sobre o asfalto agachado em uma esquina erma e com pouca iluminação. Dois mendigos o reconhecem pela roupa vermelha e gritam bêbados o seu nome. Mão de Fogo os ignora, pois seu objetivo é maior do que a compreensão deles e muito mais importante que qualquer batalha. Em um grande salto segura as barras que ligam dois edifícios e escala em velocidade impressionante para um ser humano comum as janelas de um deles. Chega ao teto com uma cambalhota, rola pelo chão sem se importar com a sujeira e corre para outro prédio em mais um gesto de corajosa força e precisão, pois a diferença entre os dois ultrapassa facilmente vinte metros. Sua mente volta a imprimir a necessidade de seu coração: “Não posso falhar desta vez! Se eu falhar, uma criança morrerá. Deixarei uma mãe em prantos e mais sofrimento se espalhará. Não posso parar agora, tenho de continuar!”.
Mão de Fogo vira uma esquina em pleno vôo segurando um mastro como apoio e saltando sobre um prédio caindo facilmente em pé graças a sua força física e a habilidade de manejar o calor. Seu corpo se move velozmente procurando afastar o medo enquanto sua mente se volta a pensamentos ligeiros: “Aquela mãe me pediu para achar sua filha raptada! Não posso falhar com ela! Estaria falhando comigo mesmo, pois prometi encontra-la! Deus! Nem quero pensar nas maldades que eles podem fazer com a menina! Ela tem apenas 8 anos, uma criança inocente nas mãos de homens tão cruéis. Tenho de me apressar!”.
Mão de Fogo lembrou do rosto da mãe, uma mulher de cabelos loiros médios, rosto cheio, com lábios bem vermelhos, algumas cavidades nas bochechas que só aumentavam sua beleza e olhos negros e corajosos, tanto que mesmo a mulher em prantos mostrou sua força em um olhar penetrante que o contagiou. Ele não podia falhar com olhos tão corajosos e com uma mãe que faria de tudo para conseguir sua filha de volta. Por esse amor, muita coisa vale a pena e o ser humano dentro do herói falou mais alto. Sua corrida pelos telhados continuou em grande desespero e parou numa sacada agachado olhando a vastidão do Quarto Distrito, o mais imundo da cidade, onde se reuniam desde ladrões comuns a monstruosos vilões com poderes.
A noite começou a ficar coberta de nuvens roseadas, o guerreiro de vermelho temia que a chuva enfraquecesse seus poderes quando mais precisasse deles. Seu corpo procurou sentir o ambiente do distrito sem se infectar por sua podridão e maldade. Seus olhos perscrutaram os arredores observando casas pichadas e outras em ruínas numa das partes mais pobres da área. Seus olhos desviaram de cinco prostitutas querendo dinheiro fácil que lhe acenavam com carinho. Também desviou os olhos de bandidos que lhe apontavam facas bem afiadas, pois seria perda de tempo enfrenta-los. Então, para escapar dessas mórbidas cenas saltou para o telhado de uma casa e seguiu por uma avenida até ouvir uma voz que não queria, mas conhecia bem:
-Agora sim iremos nos livrar de vez do doutor Marrou!
-Ele vai pagar pelo que nos fez! -reclamou outra voz que Mão de Fogo também reconheceu, mas não entendeu como aquelas duas vozes exaltadas poderiam estar concordando em algo.
-Fiquem frios caras! Tão frios como nosso colega Invernal. -disse outra voz conhecida do Mão de Fogo. O trio que tanto assustou o herói conversavam de braços cruzados em uma esquina pouco movimentada a não ser pelos bêbabos errantes e alguns mendigos pedintes. O primeiro continha imensa raiva em seus olhos azuis, fúria ao balançar seus longos cabelos negros lisos e um rosto marcado por um queixo fino. O segundo com seus olhos negros, pele branca de alguém que raramente tomou um pouco de Sol, cabelos pretos curtos crespos e arrepiados para o alto. O terceiro possui cabelos brancos lisos que tocam o meio das costas, olhar divertido, porém cruel numa cor acinzentada de difícil descrição, além disso demonstrava sempre um sorriso sarcástico em seus lábios vermelhos. Mão de Fogo se alarmou ao reconhecer três dos perigosos Extremos, conhecidos respectivamente, por “Fogo Grego”, “Albatroz” e “Cortador”. Mão de Fogo se esgueirou por algumas telhas de modo a ficar ainda mais próximo da conversa, pois uma parte de si acreditou que eles estavam envolvidos no sequestro da criança, apesar que sua mente de herói não pôde conceber ligação. Albatroz demonstrou uma cara feia ao ouvir o nome “Invernal” e disse:
-Nem quero ouvir falar desse sujeito! Ele é tão frio que nada fala. E você deveria ser o último a falar que ele frio, pois é tão frio como ele.
-Concordo com o asa gigante! -disse Fogo Grego.
-Realmente! Eu não posso negar. Mas o que interessa é que nosso plano de ferrar com o doutor está dando certo. E nem adianta aquele detetive babaca encontrar o Lançador de Adagas, pois ele foi pro túmulo mais cedo. -disse Cortador acentuando seu sorriso sarcástico.
-Era o único que podia entregar o serviço, então nada pode nos ligar a morte da esposa do doutor. -comentou Fogo Grego.
-Por que a gente não matava o doutor e pronto? -disse Albatroz.
-Cara! Eu já disse e não foi uma vez que o objetivo é fazer o cara sofrer. E ele sabe demais pra morrer. Sabe quase tudo sobre nós! -disse Cortador.
-Ele é o único que sabe eu acho. Também conhece todos os projetos anteriores ao nosso. O Projeto Extremo não seria possível sem o doutor Marrou. -disse Fogo Grego.
-Por isso que o doutor pagou com a morte da esposa. Entendi! -disse Albatroz.
-Finalmente besta! -respondeu Fogo Grego em um tom de voz elevado. Albatroz sem nenhum aviso ergueu uma das suas grandes asas e tentou acerta-lo lateralmente. Fogo Grego deu um salto para trás e ficou encarando as asas cinzas do colega. Albatroz prestou atenção nas luvas vermelhas com uma bola azul desenhada do Fogo Grego. Cortador deu três passos e ficou entre os dois com as mãos abertas.
-Não briguem caras! Estamos juntos... Por enquanto...
-Por enquanto mesmo! -gritou Albatroz.
-Só porque tem três metros se acha melhor que nós! -respondeu Fogo Grego.
-Chega caras! Só vim avisa-los para não ficarem de bobeira que nosso grande plano está em andamento. O doutor Marrou é apenas um obstáculo que está prestes a ser encarcerado, depois disso o Mundo não será suficiente para deter o poder dos Extremos! -disse Cortador acentuando seu sorriso sarcástico.
Albatroz e Fogo Grego responderam com um aceno de cabeça. Cortador respirou aliviado pensando que teria dificuldade em deter os dois de uma vez sem mata-los. Mão de Fogo cansado de ouvir as atrocidades dos Extremos disse:
-Ei idiotas! Agora que sei sobre o plano de vocês o que farão comigo?!
-Quem é?! -perguntou Albatroz.
-É um idiota que sabe que vai morrer. -disse Cortador.
-Maravilha! Alguém para queimar até a morte! -comentou Fogo Grego.
-Eu detesto interromper a conversinha de vocês, mas quero saber se vocês viram um bandido levando uma menina? -perguntou Mão de Fogo sem ligar para as ameaças.
-Não vimos nada... -disse Albatroz.
-Fique quieto besta que não precisamos falar nada, apenas mata-lo! -comentou Cortador.
-Você também... -disse Albatroz.
-Albatroz! Se quer matar alguém agora, porque não mata o herói ali! -disse Cortador.
Albatroz coçou a cabeça pensativo, virou seus olhos negros para Mão de Fogo, alargou suas duas asas cinzentas e apareceu ao lado do herói em uma velocidade quase invísivel ao olho humano comum. Mão de Fogo tremeu até a espinha esperando o próximo movimento. Fogo Grego fechou os olhos para não ver. Albatroz deu um soco na costela esquerda do herói o jogando por duzentos metros até cair sobre um conjunto de materiais de construção à frente de uma casa. Cortador apenas viu o movimento sem se espantar. Fogo Grego apontou o polegar para Albatroz confirmando sua vitória. Albatroz não viu os aplausos do colega e voou para perto de Mão de Fogo que se erguia com dificuldade, onde sua máscara pendia para um lado e sua mão cobria a costela atingida, ainda sentindo a crueldade do golpe.
-Não morreu com esse soco? -perguntou Albatroz fazendo Fogo Grego levar as mãos à cabeça com a tolice do colega. Mão de Fogo sorriu levemente, ergueu sua mão direita aos céus e ao jogou rapidamente para frente acertando um intenso lança-chamas no peito do Albatroz. Cortador deu um passo e ficou de lado vendo o guerreiro com asas voar sobre o asfalto e cair perto de um hidrante batendo suas costas violentamente. Albatroz conseguiu evitar que o choque causasse qualquer dano as suas asas, mas suas costas sentiram o impacto. Mão de Fogo colocou as mãos na cintura fingindo coragem e disse:
-Me levem até a menina ou terão o mesmo destino que ele!
-Por ter derrubado o Albatroz daquele jeito pra mim eu vou te dizer uma coisa. A menina que procura está numa casa a dois quarteirões daqui junto com uns bandidos de merda...-ia dizendo Fogo Grego até ser interrompido por Cortador.
-Se derrotar nos três, é claro, poderá salva-la. Mas será que consegue?!
Mão de Fogo olhou os dois inimigos inicialmente, depois com o canto do olho verificou que Albatroz estava em pé e limpando sujeira de sua roupa. O herói de mãos ardentes pensou “Espere garota! Eu manterei minha promessa...

4 comentários:

  1. Retribuindo a visita. Gostei do blog e já estou seguindo!

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  2. ola, pelo comentário na minha poesia percebi que você gosta de mitologia clássica, estou certo?

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Oie, obrigada pelos comentários! =]
    Em breve, lerei os seus textos.
    Beijos

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